Texto de Carlos Evangelista, em Comunicação e Sociedade
ADVENTO DA INTERNET PROVOCA FECHAMENTO DOS JORNAIS IMPRESSOS
Revolução com o fenômeno sociológico da Internet provoca fechamento de milhares de jornais impressos nos Estados Unidos, Europa e porquê não dizer no Brasil. Motivado por perdas de anunciantes, assinantes e crescimento da mídia digital…
Jornalismo impresso, perda de anunciantes, crises econômicas, crise dos jornalistas, crise de patrões, e o jornalismo digital em crescimento
São centenas de jornais impressos fechando as portas e desempregando jornalistas mundo a fora; especialmente nos Estados Unidos, Europa e porquê não dizer no Brasil.
Quando vemos um El País, da Espanha, The Garden, da Inglaterra, Jornal da Tarde, de São Paulo, O Estado do Paraná, Diário de Campinas, Diário do Rio Grande do Norte, Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, Usa Today e outros diários anunciando o encerramento destes tradicionais jornais em suas versões impressas por causa dos prejuízos apresentados, em decorrência da perda de anunciantes, assinantes e leitores, fica a certeza de que é hora de repensar a comunicação de massa.
No período imperial, sob a batuta de Dom Pedro II, até 1888, o Brasil valorizava a liberdade de imprensa, que foi sufocada e elitizada com a implantação da República, quando os donos de jornais ganhavam muito dinheiro na subserviência ao poder político e, por conseguinte ocupando uma força de supremacia no domínio da informação, depois enquadrados e reciclados novamente durante o período ditatorial para em seguida o enfrentamento do avanço tecnológico, com a chegada da Internet, nos anos de 1990, exigindo planejamento futurista no modo de propagar a informação. Desde então, muitos empresários do setor de comunicação, ficaram perdidos amargando grandes prejuízos na manutenção dos jornais impressos, no Brasil e no mundo.
No Brasil poucas foram às empresas jornalísticas que se adequaram com o advento da Internet e investiram em tecnologia digital, migrando para o jornalismo online. Vale aqui destacar a visão tecnológica do Jornal Folha de São Paulo, que em 1996 criou a primeira versão eletrônica WWW.uol.com.br, disponibilizando o conteúdo jornalístico impresso em nível nacional, a frente até mesmo dos tradicionais e famosos New York Times, O Globo e outros. O advento da Internet era e continua sendo um grande desafio no setor comunicacional no Brasil e no mundo, para o enfrentamento da mídia impressa que perde espaço, versus a mídia digital em crescimento.
Para alguns especialistas o fechamento de revistas e jornais impressos, de grande circulação se dá por questões ambientais para a produção do papel, culminando no alto custo de produção e perda de anunciantes para empresas extremamente comerciais, sem conteúdo jornalístico, como por exemplo, o Google, que investe pesado em tecnologia de hospedagem a serviço da informação a partir deste conglomerado de sites.
Segundo o site Future Exploration Network (FEN), que auxilia grandes organizações a obter insights sobre o futuro e desenvolver estratégias que criam vantagens competitivas, elaborou um gráfico baseado em estimativas e tendências atuais que aponta para o fim do jornal impresso no mundo. Nos Estados Unidos, para ficar apenas num país, mais de dois mil jornais foram fechados desde o advento da Internet. Os EUA, Pátria do mais rico jornalismo do mundo, prevê para 2017 o fim do jornal no formato impresso, seguido da Inglaterra para 2019, Canadá e Noruega, em 2020 e no Brasil em 2027. O motivo do fim da era do jornal impresso é o crescimento da tecnologia móvel e o baixo custo da operacionalização que contrasta com os valores elevados dos jornais impressos.
Então, partindo do princípio de que tudo que é sólido, um dia se acaba, creio que o jornal impresso tende reduzir a cada dia, uma vez que as pessoas querem uma informação rápida e grátis. Mas acredito também que o jornal impresso nunca acabará, ainda que os atuais jornais diários tenham que optarem pela multiplicação das plataformas para o enfrentamento das crises econômicas prenunciadas.
Certo é que as pessoas deste novo tempo querem informação escrita sim, mas querem também linguagens de vídeo, de imagem e de interatividade com os fatos noticiados, ainda que de forma superficiais, com informações produzidas atrás das mesas, passivas de equívocos e distorções a bel prazer dos objetivos pretensos.
Mas o jornal impresso vai ficar como o disco de vinil? Não se sabe. O que se sabe é que quem sobreviver sairá com pequenas tiragens dominicais, para distribuição gratuita ou para assinantes privilegiados. Popularmente, as notícias serão buscadas nos tablets, i-pad, e-readers e outros meios eletrônicos, que são leves, poderosos e acessíveis num mercado multimilionário.
Neste emaranhado de incertezas quanto ao futuro do jornalismo impresso, estão os acomodados e despreparados empresários da comunicação que vêem na reprodução e publicação de releases a alternativa emergencial para manterem suas empresas abertas, onde em suas redações sobram estagiários ou jornalistas despreparados e sem formação profissional, com o firme propósito na redução das despesas.
Diante desta crise de comunicação, está a crise na profissão de jornalista, com perda de emprego e quase total falta de prestígio profissional, em termos salariais, nos obrigando a dois, três empregos alternativos, nos dando a sensação de que existe também uma crise de patrões que não mais arriscam na abertura de novas empresas jornalísticas.
Verdade é que dá para contar nos dedos as revistas e jornais de circulação estadual e nacional, criadas nos últimos dez anos no Brasil. Que a publicidade na Internet está em crescimento “roubando” a maior fonte de renda da mídia impressa e que a Internet é sim uma vasta terra de oportunidades. É aí que as empresas jornalísticas precisam da inovação na busca de sustentação financeira, abrindo o leque para a criatividade profissional e, por conseguinte às diversas fontes de rendas. Mas para isto é preciso sair do comodismo alienante e não ter medo de arriscar.
Quanto ao jornalista, sabedor de que o jornalismo virtual (salvo a TV) não tem o mesmo peso político do jornalismo impresso, é preciso conciliar a antiga forma de produzir notícia, aproveitar os recursos tecnológicos disponíveis na apresentação de bons projetos jornalísticos, valorizando textos breves, depoimentos, imagens, gráficos, vídeos e disponibilizando canais de interação com o leitor.
Contudo, acredito que para o jornalismo literário e investigativo sempre haverá páginas e páginas disponíveis ao jornalismo impresso, que oxalá nunca acabe.
Carlos Evangelista é jornalista e especialista em sociologia política