Castro Alves, o “Poeta dos Escravos”
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Deus, Escravidão, Literatura brasileira, Romantismo, Tuberculose
Antônio Frederico de Castro Alves era baiano e foi um grande poeta brasileiro nascido no dia 14 de março de 1847 e morreu no dia 06 de julho de 1871. No período em que viveu , ainda existia a escravidão no Brasil. Com fama de ser muito simpático e gentil, e de possuir um gosto sofisticado para roupas e de levar uma vida relativamente confortável, foi capaz de compreender as dificuldades dos negros escravizados. Manifestou toda sua sensibilidade escrevendo versos de protesto contra a situação a qual os negros eram submetidos. Seu estilo contestador o fez ser conhecido como o “Poeta dos Escravos”.
Muito novo, mostrou toda sua coragem ao recitar, durante uma comemoração cívica, o “Navio Negreiro”. A contra gosto, os fazendeiros ouviram-no clamar versos que denunciavam os maus tratos aos quais os negros eram submetidos.
Além de poesias de caráter social, Castro Alves também escreveu versos amorosos.
Não é por acaso que no Brasil, Castro Alves é nome de teatros, centros de convivências, praças, ruas e até de cidade.
Morreu muito jovem (24 anos) de tuberculose, sem concluir o curso de Direito que iniciara, mas nos deixou livros e poemas significativos, entre eles:
- Navio Negreiro (1869)
- Espumas Flutuantes, 1870
- A Cachoeira de Paulo Afonso, 1876
- Os Escravos, 1883
- Tragédia no mar
- Vozes da África
- Canto da Esperança e outros
“A Praça Castro Alves é do Povo…”
O compositor e cantor Caetano Veloso, traduzindo livremente o poeta Castro Alves, que escreveu em um dos seus poemas O Povo ao Poder – “A praça! A praça é do povo, Como o céu é do condor” – imortalizou-o na sua canção “Um Frevo Novo”, com os versos: “A Praça Castro Alves é do povo, Como o céu é do avião”. A praça há muitos anos, tornou-se um ponto de encontro dos poetas carnavalescos no Carnaval da Bahia.
“Sem poder esmagar a iniquidade
Que tem na boca sempre a liberdade,
Nada no coração;
Que ri da dor cruel de mil escravos,
— Hiena, que do túmulo dos bravos,
Morde a reputação!…”
A canção do africano
Lá na úmida senzala,
Sentado na estreita sala,
Junto ao braseiro, no chão,
Entoa o escravo o seu canto,
E ao cantar correm-lhe em pranto
Saudades do seu torrão…
De um lado, uma negra escrava
Os olhos no filho crava,
Que tem no colo a embalar…
E à meia voz lá responde
Ao canto, e o filhinho esconde,
Talvez pra não o escutar!
“Minha terra é lá bem longe,
Das bandas de onde o sol vem;
Esta terra é mais bonita,
Mas à outra eu quero bem!
“0 sol faz lá tudo em fogo,
Faz em brasa toda a areia;
Ninguém sabe como é belo
Ver de tarde a papa-ceia!
“Aquelas terras tão grandes,
Tão compridas como o mar,
Com suas poucas palmeiras
Dão vontade de pensar …
“Lá todos vivem felizes,
Todos dançam no terreiro;
A gente lá não se vende
Como aqui, só por dinheiro”.
O escravo calou a fala,
Porque na úmida sala
O fogo estava a apagar;
E a escrava acabou seu canto,
Pra não acordar com o pranto
O seu filhinho a sonhar!
……………………….
O escravo então foi deitar-se,
Pois tinha de levantar-se
Bem antes do sol nascer,
E se tardasse, coitado,
Teria de ser surrado,
Pois bastava escravo ser.
E a cativa desgraçada
Deita seu filho, calada,
E põe-se triste a beijá-lo,
Talvez temendo que o dono
Não viesse, em meio do sono,
De seus braços arrancá-lo!
“Espumas Flutuantes” é uma coletânea de poemas de Castro Alves, publicada em 1870. Este livro nascera numa época em que o autor lutava contra a tuberculose, que se agravara em função de um acidente numa caçada: a arma disparou e atingiu-lhe o calcanhar esquerdo, quando estava em São Paulo prestigiando a estreia de sua peça “Gonzaga ou a Revolução de Minas”.
Após perder o pé, retorna para sua terra natal, no sertão da Bahia. É nessa viagem que o poeta tem a ideia de publicar seus poemas sob o título de “Espumas Flutuantes”, momento este registrado no poema “Adeus”:
O Navio Negreiro é um poema (autoria de Castro Alves) de alto valor significativo no romantismo brasileiro. Pois, o autor toma de forma nada estética o negro como herói de sua obra, diferentemente do que faziam outros poetas, tais como Gonçalves Dias que tomava o índio como herói. Sua abordagem difere-se totalmente do que era recorrente no período do Ultra-Romantismo, também conhecido como “Mal do Século”; ele faz uma denúncia social acerca da escravidão e luta pela abolição dos negros, isso tudo em poemas que emitem pessimismo e angústia.
Resumo do livro
O livro se inicia com o eu-lírico cantando a beleza do alto mar, ele descreve o ato do vento que bate nas velas do barco, a mistura do céu e do mar, o brilho que possui a lua e os astros e a música que se cria com a brisa. O eu-lírico também comenta sobre o navio que seguia e não deixava rastros, também atenta felicidade que estampava na face daqueles que estavam a contemplar todo esse conjunto de extraordinárias cenas.
Vozes da África
Onde estás, ó Deus, que não respondes?
Assim, o poeta Castro Alves inicia seu poema Vozes da África. É o lamento do Continente Africano, vendo seus filhos serem levados como animais ao mercado de escravos.
Deus! Ó Deus! Onde estás que não respondes!
Em que mundo, em qu´estrela tu t’escondes
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos Te mandei meu grito,
Que embalde, desde então, corre o infinito…
Onde estás, senhor Deus?
À semelhança dos versos do poeta, muitas vozes se ergueram quando aconteceu o 11 de setembro de 2001, para indagar onde estava Deus naquele momento.
Por que permitiu que mais de duas mil vidas fossem destroçadas naquela manhã?
Por quê?
Poder-se-ia perguntar ainda onde estava Deus quando fomentamos a Primeira e a Segunda Guerra Mundial.
Quando eliminamos seis milhões de judeus, em nome de uma inexistente superioridade ariana.
E quando empreendemos as Cruzadas, levando a morte àqueles que qualificávamos como infiéis?
E durante a Inquisição de tanta barbárie?
E todos os dias, onde está Deus?
Onde está Deus quando enganamos nosso irmão? Quando mentimos para conseguir favores que desejamos?
Quando desonramos o lar, com o adultério? Quando eliminamos a vida no ventre materno, porque não desejamos o ser em gestação?
Onde está Deus quando deixamos nossos filhos à matroca, sem orientação, porque preferimos a acomodação?
Onde está Deus quando, utilizando o poder que o mundo nos confere, ferimos pessoas, destruímos a honra de outras vidas?
Onde está Deus quando levantamos as bandeiras da pena de morte ao nosso irmão? Ou da eutanásia?
Para todas as perguntas, a resposta é a mesma: Deus está dentro de nós, dentro de cada criatura.
Soberanamente sábio, criou-nos a todos iguais, partindo de um mesmo ponto de simplicidade e ignorância.
Criou os mundos para que neles trabalhássemos, utilizássemos nossas forças e crescêssemos em intelecto e moral.
A ninguém concedeu privilégios. A todos concedeu o livre-arbítrio, com a consequente Lei de Causa e Efeito.
Estabeleceu que a cada um será dado conforme as suas obras e que todos deverão chegar ao mesmo destino, não importa quanto demore: a perfeição.
Ele nos permite a livre semeadura, mas estabelece que a colheita seja obrigatória.
Por isso, uns semeiam ventos e colhem tempestades. Outros lançam ao solo as sementes da bondade, do bem e alcançam felicidade.
Uns estão semeando hoje. Outros tantos estão realizando a colheita das bênçãos ou das desgraças que se permitiram semear.
Conhecedor das fragilidades de Seus filhos, aguarda que cada um desperte, a seu tempo, cansado das dores que para si mesmo conseguiu.
Portanto, não indague onde está Deus, quando você se deparar com a injustiça. Trabalhe pela justiça.
Não pergunte onde está Deus, quando observar a violência. Semeie a paz.
Não questione onde está Deus quando a miséria campeia. Utilize seus recursos para semear riquezas.
Fontes:
http://nossabrasilidade.com.br/castroalves/
http://homoliteratus.com/o-poeta-dos-escravos-o-canto-do-aflitos/
Carlos Evangelista é jornalista (ESEEI) e especialista em Sociologia Política (UFPR). Este artigo reflete as opiniões do autor. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.