Carlos Evangelista

Carlos Evangelista

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Cadeia, Condenações, Polícia, Profissão, Roubos, Terror

 Contos

lcarlos.evangelista@gmail.com

Paulo Gergelim, nascido e crescido na região da Cidade Industrial, em Curitiba, aprendeu fazer muitas coisas, mas tocar violão é com ele mesmo. Gosta também de escrever música funk e ler. lnfelizmente, Paulo não encontrou tempo para estudar e caiu na contravernção da lei. Praticou inúmeros assaltos na grande Curitiba, foi condenado à revelia, capturado, preso, fugitivo sendo considerado o segundo homem mais procurado no Paraná, de acordo com os cartazes da época. Nas modalidades furtos, roubos e assaltos a mão armada Paulo acumulou uma ficha criminal assustadora.

Aos dezessete anos de idade praticou o seu grande assalto de um carro forte, na região de Londrina. Fez a farra até os vinte anos. Até tentou estudar lá em Sáo Paulo, mas preferia mesmo eram as mesas de jogos, boates e pouco trabalho. Quase foi cantor da noite paulista.

Companheiros presos ou mortos, aos poucos Paulo retornou a Vila Nossa Senhora da Luz, de onde saía para os assaltos aos postos de gasolina, farmácias e supermercados. Exímio motorista, “especializou-se” em assaltos a velhinhas ricas em dia de casamento ou festa nas imediações de igrejas em bairros nobres da Capital Paranaense.

Nas quatro vezes que foi preso trocou tiros com a polícia e por muito pouco não morreu, recorda. Cada prisão dessas me custava cinco, seis anos de reclusão em regime fechado. Pago um terço ou metade da pena me mandavam para a Colônia Penal Agrícola, era chegar num dia e fugir no outro. Daí dependendo do veneno era assaltar e ficar mocozado com as putas. Quando os assaltos não deixavam pistas tudo bem, comprava passagem para São Paulo e por lá ficava uns três meses. Depois voltava e aprontava os diabos.

Certa ocasião Paulo lembra, “me droguei tanto que ao escurecer, assaltei uma mulher quando chegava na igreja do Batel. Dei voz de prisão e pedi o carro e a bolsa dela. Prontamente fui atendido. Fiz ela deitar de cabeça entre as pernas no banco de trás e fui com ela lá para os lados do Parque Barigui . Não percebi e a mulher desmaiou. Parei num posto de gasolina, completei o tanque de combustfvel, comprei umas bebidas, biscoitos e paguei em dinheiro. Arrumei a mulher no banco e entrei num motel. Adicionei dramim na bebida dela e dormimos até as quatro da tarde quando ela me acordou querendo saber a minha pretensão em relação a ela.

  Olha, adiantou a mulher, sei que você é um homem bom e proponho um acordo. Você me deixa aqui, leva o carro, esses dois cartões, com as respectivas senhas e me liga daqui três dias para devolver o carro. Que tal?

  É, fechado, afirmei. Quando liguei para cumprir o trato da devolução do carro, pois havia sido tratado com respeito e dignidade por aquela senhora. Achei que ela tinha gostado de mim, assim como eu dela. Fui preso mais um tempão na Penitenciaria Central do Estado. Nunca matei ninguém, mas já apavorei muita gente. Por isso hoje, condenado a trinta anos de cadeia, já tendo pago quinze anos, esperança é poder rever familiares e trabalhar de qualquer coisa para garantir o meu  sustento. Sei que será muito difícil, porque tenho muito prazer em roubar. Acho que nasci pra ser ladrão. Engraçado que dia desses, lá no refeitório a TV estava ligada e vi uma mulher falando do lançamento do seu livro relatando fatos de violência contra mulheres e citou o meu caso pitoresco de assalto. “Com licença, preciso tocar violão e tomar os meus remédios, sou bipolar”.

Carlos Evangelista é jornalista e especialista em Sociologia Política (UFPR). Este texto reflete as opiniões do autor. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.

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