Carlos Evangelista

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NOS BAILÕES DE CURITIBA

PUBLICADO POR CARLOSEVANGELISTAJOR ⋅ 29 DE JULHO DE 2024 ⋅ DEIXE UM COMENTÁRIO

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Abusos, Causos, Contos, Medo, Susto

Contos – Carlos Evangelista

Carlosevangelista2021@gmail.com

  A dança que tem poder curativo é a mesma que vicia.  Lá no interior do Paraná, Clementino engordava setenta mil frangos a cada quarenta e cinco dias. Depois da gripe aviária, produtores de galetos tiveram mil e uma dificuldades para continuarem produzindo por causa da redução sistemática dos lucros. Clementino teve de demitir os dois funcionários e passou a cuidar da granja, quase sozinho. Não deixava a mulher trabalhar com frangos para não ficar cheirando galinha.

 Para economizar na mão de obra, Clementino trabalhava das seis às treze horas, almoçava, dormia um pouquinho para as quatro horas da tarde, pegar no trato das aves até ás onze da noite. Mas geralmente precisava levantar de madrugada quando chovia forte, na chegada de pintinhos, desembarque de ração ou embarque dos frangos.

   Clementino comprou uma camionete, matriculou a mulher numa autoescola, delegando a esposa responsável pelas compras de casa e eventuais objetos. Sendo a cidade polo distante oitenta quilômetros. A mulher de Clementino costumava dizer que compensava ir até lá onde tudo era muito mais barato. E assim uma vez por mês ela saía cedo de casa e voltava no entardecer, sempre alegando que atrasou porque resolveu marcar uma consulta, ver isso, aquilo e aquilo  outro. Na verdade ela arrumou um amante. E o chifrudo do Clementino só trabalhava.

  Quando soube da traição Clementino quis morrer, depois queria matar os dois. Não sabia se cortava a mulher em pedacinhos e jogava no Rio Paranazão, ou sumia no mundo.

  Forçou a mulher até ela concordar em vender o sítio e dar todo o dinheiro a ele. Ficava a casa sob regime  de  usufruto, por  causa  de um  filho  de oito  anos. Em troca deixaria ela em paz. Queria ir pra bem longe. Foi morar em Curitiba, onde comprou terreno e construiu casa boa. Tomou gosto pela cidade grande, virou vendedor de ração animal, ganhou dinheiro e tem suas casas alugadas. Mas como dizia o cantor Gonzaguinha, “ninguém é feliz sozinho, nem o pobre e nem o rico”.

   Após choramingar e demonstrar a sua vontade de pedir demissão do emprego e passar uma temporada na  Amazônia, já  que a vida  estava perdendo  sentido,  caindo  numa  rotina  sem  graça  de  trabalhar  e nos  fins  de  semana  ir  ao  bar jogar  sinuca,  organizar torneios de  baralho,  beber jurubeba com  cerveja,  assistir Faustão,  futebol,  pagar contas, dormir e acordar  todo  santo  dia, Clementino  foi  orientado  pelo  médico da empresa a substituir todos aqueles “passatempos” por dois  esportes;  dançar  e  nadar.

   Clementino ficou sócio de um clube, que tem diversas opções de lazer, onde aproveita para nadar na piscina térmica duas vezes por semana, para queimar as calorias, construir novas amizades, divulgar seu trabalho e até namorar.

   Clementino conheceu e frequenta alguns bailões da Capital Curitiba dentre eles o Água Verde, o Cristal, Danúbio, Dom Pedro, Arena, Bacacheri, Albatroz,Baila Comigo, Tradição, Universal, Adelson, Bola de Ouro, Kalech. Solitários, Recreativo e até o Graxaim, na Praça Tiradentes. Aprendeu dançar forró, floreio e até fandango. Valsa gosta só de ver. Quando empolgado dança até transpirar por todos os poros. Bebe bem pouco com medo do bafômetro da policia. Como ainda é casado no papel não se permite evoluir nas relações. Quando relembra do chifre, a cabeça dói.  Talvez por isso aprendeu dizer  não às mulheres mais  afoitas,  interesseiras  e  diz  ser feliz assim.                                                                                                                                                                                                                                                                                  

  Clementino costuma dizer que a felicidade é a busca principal do ser humano.    Contudo, sabe-se que a felicidade é buscada de muitas formas, sendo a vida rápida e transitória.

  Certa feita Clementino atendeu convite para levar uma bonita mulher que conheceu num baile. Ao chegar ao portão da casa Clementino arrepiou-se todo. Era a porta de um cemitério.

Carlos Evangelista é jornalista e especialista em Sociologia Política (UFPR). Este texto reflete as opiniões do autor. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.

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