Carlos Evangelista

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VALENTIA

PUBLICADO POR CARLOSEVANGELISTAJOR ⋅ 31 DE AGOSTO DE 2023 ⋅ DEIXE UM COMENTÁRIO

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Brigas, Gang, Policiamento, Valentia, Violência

Carlos Evangelista – Contos  do Livro Assombros                                               

        Quem conhece a Esperança Nova de hoje não sabe que aqui já foi palco de muitas brigas entre grupos de jovens da Esperancinha e de São Jorge, beberrões valentes, enciumados, “jogadores, zoneiros e cartolas do futebol”. Num final de semana saía às vezes, dez brigas e outras dez ficavam prometidas para a próxima oportunidade.

        Conforme relato do Caburé, no ano de 1963, morava no então Distrito de Boa Esperança, um pernambucano por apelido de “Carriola”. A valentia do “Carriola correu logo, já que o homem era bom de peixeira e qualquer pé de galinha pra ele virava logo uma sopa. Humilhava e surrava homens por motivos fúteis.

        Um dia, num baile nas proximidades da Sertania, surgiu uma briga feia e o tal “Carriola” era o estopim da confusão, por causa de uma cabocla que lhe dera uma inoportuna tábua. Zangado, o pernambucano arrancou um punhal jurando acabar com a brincadeira, fazendo riscar a faca no ladrilho, só para ver a faísca assustar as pessoas presentes. O lampião da festa era o primeiro que Carriola quebrava. E aí o pau  torava.

        Por falta de sorte, no baile estava o recém-chegado Cabo da PM, por nome Gabriel. Quando o Cabo Gabriel ameaçou tomar a arma do “Carriola”, o tempo fechou, mas depois de muita briga, o policial quebrou a faca em três pedaços, deixando o pernambucano a cuspir fogo pela venta, ali todo ensanguentado.

        No dia seguinte, logo cedo, Carriola juntou quatro cabras dos brabos, rumando para a sede do distrito, jurando de morte o Cabo Gabriel.

        Numa tocaia nas proximidades da Padaria do Zé Padeiro, nas imediações da atual Escola Estadual Marechal Arthur da Costa e Silva, o grupo do “Carriola” cercou o jipe da PM, tirou de dentro o cabo, tomou a sua arma, rasgou a sua farda, espancou o policial, mas quando o bando decidiu desferir o golpe fatal, uns tropeiros, ao todo uns dez homens, compraram a briga e o tempo escureceu de pancadaria na poeira vermelha. O tilintar das facas era contido com gritos, relinchar de cavalos, éguas, esporas e estalos dos reios. No final da briga, alguns elementos ficaram caídos, outros sangrando, mas a baderna cessou.

        Carriola que possuía dez alqueires de terras na Estrada Jordão, vendeu o sítio para arcar com as despesas de dois processos que tramitaram por treze anos no Fórum da Comarca de Xambrê.

        Sempre que tinha oportunidade Carriola desabafava por não entender como não havia dado cabo ao cabo e aqueles tropeiros endiabrados.

        Soube-se mais tarde que o valente carriola refugiou-se ao Mato Grosso, lá morrendo à míngua, por causa da sua intenção de lá formar um bando de saqueadores.

Carlos Evangelista é jornalista e especialista em Sociologia Política (UFPR). Este texto reflete as opiniões do autor. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.

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