Carlos Evangelista

Carlos Evangelista

Tags:

Contando histórias, Simplicidade, Visão política, Vendo e lendo,

Carlos Evangelista – Conto/Literatura

   Conheço um sujeito de apelido Tonico que foi adolescente na região Noroeste do Paraná. Desde menino aprendeu lidar com animais, se defender de bichos, trabalhar na roça, correr descalço pelos matos e estradas e nadar em rios aparentemente tranquilos, mas  cheios  de  cobras,  mandis e piranhas.

   No vicejar da juventude, completaria dezoito anos, quando entregou-se as delícias da paixão. Casou-se muito cedo embevecido por uma também donzela da vizinhança. O casal acreditava que lutando junto ficaria mais fácil vencer os desafios da vida.  Jovens saudáveis foram a luta. Antes, porém Tonico soube que seria pai antes dos vinte anos de idade. Agora sim a vida tomava rumo desconhecido.

   A nova mãe Consuelo, igualmente mocinha acanhada, foi certeira na relação sexual sem camisinha evidenciando ser Consuelo uma boa parideira. A gravidez correu tranquila, servindo de incentivos para outras quatro gestações.

  Tonico e Consuelo, cansados da luta, ele funcionário de um supermercado e ela operária de uma tinturaria na pacata cidadezinha plantada nas barrancas do Rio Paraná, decidiram mudar de vida.

_______Vamos mesmo Tonico, deixar esse lugar que já foi bom, hoje só se vê barracões de  frangos, granjas de porcos,  veneno e  lá longe  já  avista  o  canavial  que  tudo  destrói no  entorno,  criticava  Consuelo.

 ______A gente pede a conta dos serviços pega as malas e as crianças, damos tchau para o pessoal conhecido e vamos cair na estrada. Nem nos rios a gente pode mais nadar. Os capangas das fazendas não deixam. Café por aqui já era.  O bicho da seda é rentável, mas trabalhoso e susceptível a cheiros, lavoura branca ficou onerosa para a produção. Aqui é gado, leite e essas granjas. Quanto ao gado e as granjas de frango tudo bem, não incomodam, mas o cheiro forte e ruim de porco incomoda muita gente. A roupa fica fedendo. Vamos embora e seja lá o que Deus quiser, falou o animado Tonico.

  Curitiba foi a cidade escolhida pra criarem os filhos e reconstruírem a vida, na região do Boqueirão. Pedreiro de mão cheia e cozinheira das boas, o casal comprou terreno em São José dos Pinhais, construiu casa, obrigou os quatro filhos a concluírem o ensino médio. Um dos filhos quer ser construtor, o pai não incentiva. Tem medo de acidentes nas obras, costuma dizer.

   Inscritos nos diversos cursos de capacitação do SENAI, SEBRAE, SENAC, os  jovens  adolescentes  estudam,  trabalham e  da  cidadezinha  natal  restaram  lampejos de um  tempo, substituídos  por  apitos  de trem,  barulho  de  avião,  fábricas,  buzinas  de  carros,  rojões  para  comemoração de  qualquer  vitória.

  Tonico e Consuelo decidiram estudar e acabam de passar no vestibular da Unínter.

___De qualquer maneira, com sorte, teremos setenta ou oitenta anos de idade. Então que seja com menos ignorância e mais conhecimento. Sou sim um caipira/sertanejo brasileiro, com muito orgulho. Gosto de Deus, da minha família, do meu Brasil, gosto de trabalhar, de futebol, tubaína, do cheiro de mato, cerveja, carnaval, gosto de vina, sou pacifista, amigo e estou louco pra votar no Bolsonaro. Aqui em casa somos quase vinte pessoas, entre filhos e agregados. Só a Shakira é peteba, vive defendendo o Lula Ladrão. Tô até com medo dessas eleições. E não quero e nem vou perder o meu voto, revela de peito aberto Tonico.

Fonte:

Carlos Evangelista é jornalista e especialista em Sociologia Política (UFPR). Este texto reflete as

opiniões do autor. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas

informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas

informações.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *