PESADELO DO DESEMPREGADO
PUBLICADO POR CARLOSEVANGELISTAJOR ⋅ 27 DE OUTUBRO DE 2021 ⋅ DEIXE UM COMENTÁRIO

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Abandono, Indiferença, Poesia, Resto humano,
carlosevangelista2021@gmail.com – Poesia
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Ecoaram muitos gritos pujantes. Mais uma noite finda.
Em casa a necessidade sacode as boas lembranças.
Sapatos gastos, realçados nas roupas puídas.
O sol raiou e Epifânio saiu a ermo na primavera linda.
– Vamos, produza a sua quota!
Falta pão em nossa máquina.
O vento acordou a folhagem, nada mudou e a sirene apitou.
No rosto a expressão sertaneja ofuscada na grande metrópole,
Não ligou, contou as moedas, tomou o ônibus,
Seguiu pro eito urbano, disfarçando a baixa estima.
Infância, fartura, sonhos. Feliz, estava sonhando.
Esforçava-se para perdoar os colegas infiéis, o chefe que o despediu
Enfim; questionava a bondade e o infeliz destino.
Mataram os meus planos. Embriagou-se no boteco da esquina.
Trêbado, juntou-se aos mendigos na praça central.
Canções, viagens, serestas, experiências; tolices.
Com o bucho vazio e a cabeça torturada,
Precisava de um grande sonho para manter-se vivo.
Andou nos becos da Cracolândia,
Ruelas desertas de Paraisópolis, Praça Tiradentes, em Curitiba…
E até em intramuros de Piraquara.
Pensou em ser ladrão, traficante, mercenário; contraventor.
Afinal, nem a vida é correta. Vou ficar rico. Não consigo.
Tola honestidade, herdada, talvez do vício
Do assistencialismo ou da sagrada bíblia.
Esposa, filhos por aí, lar e bolso minguado.
Alguém roubou o meu quinhão.
Delírios psicóticos potencializados pelo álcool e crak.
Perambulou pela cidade; pão negado.
Entrou na fila evangélica
Ou do MST para ganhar marmitex.
Brincou e carregou cachorros e gatos.
Mas gostava de comer aves, ovos e até ração canina.
Foi pra carreta de carcaças suínas, bovinas e galináceos.
Oferecida pelos padres do psc.
Com barriga cheia dizia gostar de música gospel.
Leu Helena Kolody.
Esqueceu os compromissos do coração ultrajado.
Dormiu em marquises e árvores. Foi enxotado pelo vigia do prédio.
Alucinado, foi ao cemitério da Água Verde.
Enxergou seu destino nas cruzes caídas.
Indiferentes ao movimentado trânsito do Batel.
Sirenes e tiros. Nunca chega o meu auxílio do governo.
A dor crucificava o seu tino;
Não hesitou, subiu numa árvore
E lá viu o mundo no chão.
Trabalho, sonho, família e a corda
Desejou a morte e a deixou em suas mãos.
Transpirando, subitamente acordou
Pesadelo, desilusão e vida em vão.
Amanhã melhor será.
Sina? Destino ou fraqueza psiquiátrica?
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(Cracolândia-SP – 2021)
Carlos Evangelista é jornalista e especialista em Sociologia Política (UFPR). Este texto reflete as opiniões do autor. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações