Carlos Evangelista

Carlos Evangelista

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 Atendimento nas UPAS, Conferência da Saúde, Descasos, Direitos do Cidadão, Exigências, Gestores Públicos, Previdência Social, SUS, Usuários

 

Sabemos que passar alguns dias num hospital é no mínimo desafiador. Primeiro é preciso reinar o silêncio. A partir da recepção e segurança. Ainda assim o ruído do salto alto da visitante chamava atenção. A figura da mulher de toca, camuflada na roupa azul evidenciava a saída do centro cirúrgico rumo aos familiares na prestação de informações na sala de espera dos acompanhantes e parentes. Cada qual com seu histórico e posição da situação do paciente no centro cirúrgico ou na sala de recuperação pós operatório. São muitos os relatos de saídas rumo a enfermaria, quarto, ou apartamento. Em lágrimas membros de família ouvia a dupla de médicos informando a situação da enferma já idosa em estado crítico por causa da metástase cancerígena que se espalha pelo corpo. O menino pálido deixava o hospital com tórax e um braço engessado. O rapaz aparentemente saudável, abraçado pela namorada aguardava ansioso para cirurgia de retirada de uma haste de titânio na tíbia.

Sabemos também que operar num hospital do SUS, é uma coisa, diferente de ser operado num hospital particular mediante os muitos e bons convênios; mesmo com mensalidades elevadas. Mas na hora de ser submetido a uma cirurgia faz toda diferença na sala de recuperação e no centro cirúrgico. O paciente vai andando ou na cadeira de rodas. O ritual é substituir as roupas por um roupão, chinelão, toca, sem celular, metais ou adornos. Os procedimentos cirúrgicos são os mais variados. Lágrimas, coragem e fé no aguardo da temida anestesia local ou corporal. A decisão é sempre do paciente, parente ou pessoa responsável.

Três, quatro, cinco horas após o paciente operado deixa o centro cirúrgico e sala de recuperação ainda grogue.

Sem noção de tempo, nem espaço o paciente é levado ao quarto, enfermaria, apartamento ou a temida e inóspita capela mortuária. A enfermaria para os beneficiários do SUS, onde são separados por cortinas e box. Os quartos são destinados aos conveniados e os apartamentos às autoridades e pessoas de alto poder aquisitivo, onde a diária pode chegar ou até passar aos três mil reais.

O bom mesmo, ainda que desconexo é ver, sentir, ouvir, os acontecimentos ao nosso redor sem nada poder falar. Semimorto.

Aos poucos os dedos mexem, os olhos abrem, o cérebro lento pede nutrientes medicinais. Na cama hospitalar o negócio é dormir e Deus Seja Louvado até acordar.

Piadas médicas são geralmente pesadas aos já fragilizados pacientes a caminho de uma cirurgia. Tipo: “É aqui que vamos fazer uma mudança de sexo? Ou: o paciente tem direito escolher se quer anestesia geral ou na coluna. São diferentes na tesouraria e custos.

A natural ansiedade da alta prometida e a real situação. Finalmente vem a enfermeira com a cadeira de rodas e leva o paciente até a portaria.

Um tiaozinho, um sorriso melancólico ao celular e o Uber encosta. Fui salvo das infecções comuns nos hospitais. Obrigado profissionais sérios da saúde. Estou já bem melhor e vida que segue.

A Reforma Previdenciária se faz necessária para o bem dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS).  Estamos na fase de transição entre a previdência pública ou privada. Podendo ser SUS até ser extinto num futuro breve. Se isso é bom ou ruim, veremos. Hospitais, planos e saúde, previdência privada, SUS, etc. logo tantas mudanças veremos. Em meio às muitas especulações e sugestões. Certo é não sonhar viver bem aposentado pelo SUS.  Alternativa é fazer seu próprio plano de saúde e construir sua aposentadoria complementar em forma de bens, móveis, imóveis, etc. Obviamente, sem as benesses da corrupção que envolve todo o sistema público de saúde no Brasil.

A Federação Brasileira de Hospitais – FBH lançou dia 24/07 na feira Hospitalar, em São Paulo, um relatório técnico minucioso compilados a partir de dados do Ministério da Saúde: o Cenário dos Hospitais no Brasil – 2018 que traz  gráficos, números, mapas, informações e análises que mostram a situação e a distribuição nacional e regional do setor hospitalar brasileiro. O número de hospitais e, consequentemente, o número de leitos hospitalares, são importantes indicadores para determinar o tamanho da estrutura, o contingente de recursos e a capacidade do atendimento de saúde em alta e média complexidade disponível à população de qualquer país ou região.

Embora não exista um parâmetro oficial que aponte a densidade de leitos hospitalares por habitante, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima globalmente uma média de 3,2 leitos hospitalares para cada 1.000 habitantes. Para a América Latina e Caribe esta estimativa cai para 2,0 leitos hospitalares por 1.000 habitantes (1).

Nessa perspectiva, esse relatório da situação dos hospitais privados no Brasil, de forma inédita, consolida dados e analisa a evolução e a configuração dos hospitais privados no período entre 2010 e 2018 a fim de contribuir com estratégias de planejamento e gestão e ampliar as perspectivas de novos investimentos na prestação de serviços hospitalares em todo o território nacional.

Uma informação importante que a publicação traz é a de que, para retornar ao número de hospitais e leitos observados em 2010, o setor de saúde brasileiro teria que injetar R$ 30 bilhões. Os estabelecimentos privados foram os que mais sofreram no período. Ao todo foram 430 hospitais privados fechados entre 2010 e março de 2018. Na contramão, foram criadas 343 unidades de saúde pública, na mesma base de comparação. Para o presidente da FBHLuiz Aramicy Pinto, a tendência é que o número não piore, tendo em vista que o volume chegou ao limite. Contudo, ele destaca que os desafios de operar no País continuam complexos.

Enquanto isso: Promotor que chamou Lula de “encantador de burros” é condenado a pagar R$ 60 mil de indenização.

No entendimento do juiz Anderson da Cruz, o réu teve a “nítida intenção calculada e provocativa de humilhar, menoscabar e desprezar”

Diante do exposto corrupção e saúde tem tudo a ver, pois quem paga são os usuários do SUS revoltados nas filas dos postos de saúde e nos hospitais Brasil a fora. Até quando?

Fontes:

https://www.revistaforum.com.br/promotor-que-chamou-lula-de-encantador-de-burros-e-condenado-a-pagar-r-60-mil-de-indenizacao/

http://fbh.com.br/wp-content/uploads/2018/07/Relatorio-FBH-CNS_web.pdf

https://exame.abril.com.br/brasil/70-dos-esquemas-de-corrupcao-no-brasil-afetam-saude-e-educacao/

Carlos Evangelista é jornalista e especialista em Sociologia Política (UFPR). Este artigo reflete as opiniões do autor. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.

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