Acessibilidade no Brasil: preconceito reinante e leis desrespeitadas
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Deficiência, Falácia, Legislação, Lei 10.098/2000, Luta contínua, Preconceito
Fala-se demasiadamente em acessibilidade às pessoas com deficiência, contudo, falta o cumprimento das ações descritas nas políticas públicas direcionadas aos cadeirantes, cegos, surdos e demais deficiências.
Segundo o Ministério da Saúde, 10% da população brasileira apresentam algum tipo de deficiência, perfazendo desta forma em torno de 20 milhões de deficientes, mostrando assim que estamos falando de um universo imenso de pessoas que estudam, trabalham, labutam, consomem e exigem convivência plena como cidadãs, exercendo seus direitos, desenvolvendo suas capacidades e realizando seus desejos.
Como seria maravilhoso se víssemos de fato cegos andando na rua sem esbarrar em nada, cadeirantes para todo lado, surdos interagindo com outras pessoas, todos gozando de plena liberdade de ir e vir, sem preconceitos.
Bom seria se (além de Uberlândia-MG e Balneário Camboriú-SC) existissem outras cidades no Brasil onde essa liberdade de locomoção fosse real, seja no transporte coletivo, com 100% da frota de ônibus com elevadores para quem tem dificuldade de locomoção, piso tátil para bem orientar as pessoas cegas em todas as calçadas, terminais rodoviários, lojas, shoppings e prédios públicos, bem como rampas de acesso em todas as esquinas, linguagem de sinais para quem é surdo poder acompanhar a aula, máquinas braille para quem é cego poder anotar tudo.
Não raramente vemos noticiários mostrando a falta de acessibilidade nos aeroportos, igrejas, escolas, aviões, fóruns e muito mais.
Curitiba
Em Curitiba, cidade ecológica e considerada modelo para diversos experimentos a situação é vergonhosa, vexatória, e por que não falar discriminatória quando o assunto é mobilidade.
Segundo Jamir Elias, 53, cego “bengaleiro”, que sempre morou em Curitiba, diz que “nos anos 90 existia na prefeitura uma secretaria municipal de acessibilidade às pessoas com deficiência, uma espécie de ouvidoria permitindo a essas pessoas reclamarem quando o seus direitos eram violados.”
Atualmente, diz Jamir, “até existe uma secretaria especial de direitos da pessoa com deficiência, mas que a meu ver está mais voltada para o assistencialismo, nada contra, mas então, as pessoas com deficiência não tem aonde reclamarem e cada qual que assuma os riscos, despesas, violações e preconceitos de toda natureza. O que se vê é cego caindo em buracos (sem sinalização) abertos pela Copel, Sanepar, etc. Pista tátil em Curitiba é bem acanhada e somente no centro da cidade e não leva aos bancos ou supermercados. O cego que chega à nova rodoviária não consegue sair de lá sozinho por falta de orientação. São muitos os estacionamentos que não sinalizam entrada e saída de veículos. Os motoristas de ônibus não são preparados para bem orientar os cegos. Durante o natal enfeitam o centro da cidade, tornando quase impossível se locomover sem se machucar por causa das intervenções”.
Jamir é “bengaleiro” e contra o custo benefício do cão-guia e dispara “nem de graça quero um cachorro desse. Além dos cuidados especiais para manter o animal é preciso pensar nas pessoas videntes. Já pensou um cego no restaurante lotado e o cachorro molhado fedendo, se coçando ou soltando pum?. Sei que na Europa isto é permitido, mas aqui ainda me parece bastante utópico. Verdade é que estamos caminhando, porém o que Curitiba oferece está muito aquém daquilo que realmente se precisa para a área de mobilidade”.
Na opinião de Jamir, casado e pai de uma filha vidente, as leis existem, (Lei federal 10.098/2000, 11.982/2009 e Lei 13.146/2015) mas são desrespeitadas. É preciso leis punitivas para se fazer respeitar os direitos das pessoas com deficiência. Penso que está na hora de se realizar uma conferência municipal em Curitiba para dar vez e voz as pessoas com deficiência, visando melhorar a mobilidade urbana na capital do Paraná.”
Diante do exposto evidente está que é hora de fortalecer as políticas públicas existentes quando o assunto é acessibilidade das pessoas com deficiência em Curitiba e por que não dizer no Brasil.
Por fim, não basta somente essa propalada assistência social aos portadores de deficiências, é preciso que o poder público em todas as esferas, crie ou faça cumprir as leis já existentes de modo que elas, as pessoas com deficiência, estejam preparadas para viverem e conviverem incluídas na sociedade como cidadãs plenas de fato.
Fontes:
Instituto Paranaense de Cegos
http://www.curitiba.pr.gov.br/conteudo/acessibilidade/1
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L10098.htm
Carlos Evangelista é jornalista (ESEEI) e especialista em Sociologia Política (UFPR). Este artigo reflete as opiniões do autor. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.
Triste realidade essa nossa. Mais triste ainda é pensar que quase nada muda…