Carlos Evangelista

Carlos Evangelista

//
você está lendo…
UNCATEGORIZED

Sociologia: 17° Congresso Brasileiro discutirá redes internacionais de pesquisa sociológica

images (16)

Tags:

Indivíduo e sociedade, Processo reflexivo, Sociólogos brasileiros, Transformações sociais,

A Sociedade Brasileira de Sociologia apresenta o XVII Congresso Brasileiro de Sociologia, que será realizado de 20 a 23 de julho de 2015, em  Porto Alegre, no Campus Central da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O tema do evento é ‘Sociologia em Diálogos Transnacionais’, que chama a atenção para a importância dos debates correntes nas principais redes internacionais de pesquisa sociológica. Interconectadas, essas redes propiciam a crescente cooperação em pesquisa e docência de sociólogos brasileiros com colegas da América do Norte, da Europa, dos países lusófonos, dos países ibero-americanos, do denominado eixo ‘Sul Sul’, com destaque para as importantes conexões com pesquisadores dos países Brics, da América Latina e da África.

Um dos objetivos do Congresso é fomentar o aprofundamento dessas relações. Mas o propósito principal é colaborar para a construção de uma Sociologia, inserida em debates correntes, que por meio de múltiplas abordagens teóricas e metodológicas, participe ativamente em diálogos mundiais, nacionais e locais sobre a sociedade contemporânea. O Congresso dará visibilidade a estudos, pesquisas e discussões que se realizam não apenas no interior da própria disciplina, mas também em conexão com outras áreas científicas e com atores e instituições mundiais, estatais e da sociedade.

Assim, além do fortalecimento de redes nacionais e internacionais de pesquisa, há ainda o objetivo de colaborar para a compreensão de transformações sociais ora em curso, de resistências à mudança, de continuidades e rupturas em padrões culturais e em instituições sociais e do processo reflexivo da disciplina sobre si mesma e sobre como é construído o conhecimento sociológico. Acredita-se que o XVII Congresso Brasileiro de Sociologia promoverá esses diálogos e auxiliará na constituição de um conjunto bem fundamentado de análises sobre a sociedade em que vivemos.

 Aproveitamos este momento que antecede a realização de tão importante congresso nacional de sociologia, para juntos refletirmos sobre as variadas correntes sociológicas de ontem e de hoje.

As relações entre indivíduo e sociedade

brasil-protestos-rio-de-janeiro-20130718-05-size-598

Entre os estudiosos que se preocuparam em analisar a relação do indivíduo com a sociedade, destacam-se autores clássicos da Sociologia, como Karl Marx (1818-1883), Èmile Durkheim (1858-1917) e Max Weber (1864-1920), e outros mais recentes, como Norbert Elias (1897-1990) e Pierre Bourdieu (1930-2002).  Esses sociólogos examinaram as diferentes perspectivas adotadas para analisar o processo de constituição da sociedade e a maneira como os indivíduos se relacionam.

Karl-Marx-Trier_LC_1909

Karl Marx, os indivíduos e as classes sociais

Para o alemão Karl Marx, o ser humano, além do resultado da evolução biológica da espécie, é um produto histórico em constante mudança, dependendo da sociedade na qual está inserido e das condições em que vive. Assim, os indivíduos devem ser analisados de acordo com o contexto social em que vivem.

O homem primitivo, segundo Marx, diferenciava-se dos outros animais não apenas pelas características biológicas, mas também por aquilo que produzia no espaço e na época em que vivia. Coletando alimentos, caçando, defendendo-se e criando instrumentos, nossos ancestrais construíram sua história e sua existência na sociedade.

Ao produzir as condições materiais de existência, o ser humano elabora sua consciência, seu modo de pensar e conceber o mundo, isto é, as explicações, as leis, a moral e a religião em uma sociedade. É nesse sentido que Marx afirma que é a maneira como os indivíduos produzem sua existência que condiciona o processo de vida social, política e intelectual, ou seja, o modo como a pessoa vive determina como ela pensa. Assim, a sociedade produz o indivíduo e este produz a sociedade.

A capacidade de se relacionar em sociedade trabalhando, aprendendo, construindo e inovando é uma característica fundamental do ser humano. Por isso, Marx não analisa um indivíduo genérico, abstrato, mas os indivíduos humanos reais que vivem em uma sociedade histórica. A produção do indivíduo isolado, fora da sociedade, é tão inconcebível quanto o desenvolvimento da linguagem sem indivíduos que vivam juntos e conversem.

Constituição das classes

De acordo com Marx, na sociedade capitalista, quando se desenvolveu de

modo mais preciso o trabalho assalariado, os trabalhadores perderam o domínio sobre sua vida e passaram a depender do capitalista; não trabalham

mais para si, mas vendem seu trabalho e não conseguem se reconhecer no

que fazem e produzem.

É na luta diária para se contrapor a esse tipo de vida desumanizado, no qual são reduzidos a uma coisa que pode ser vendida, comprada e até descartada, que os indivíduos trabalhadores se identificam e se unem para questionar a realidade de exploração, configurando

Uma classe social.

Ao analisar a sociedade capitalista e os indivíduos, Marx trata das relações entre as classes sociais, mas a ideia do indivíduo como ser social continua presente. Isso fica claro quando Marx afirma que os seres humanos constroem sua história, mas não da maneira que querem, pois são condicionados por situações anteriores. Para ele, existem fatores sociais, políticos e econômicos que levam os indivíduos e as classes a percorrer determinados caminhos; mas todos têm capacidade de reagir a essas situações e até mesmo de transformá-las.

O ponto central da análise que Marx faz da sociedade capitalista está

nas relações estabelecidas entre as classes que compõem essa sociedade.

Para ele, só é possível entender as relações dos indivíduos com base nos

antagonismos, nas contradições e nos conflitos entre as classes sociais, ou

seja, na luta de classes que se desenvolve à medida que homens e mulheres

procuram satisfazer suas necessidades, sejam elas oriundas do estômago

ou da fantasia.

Burgueses e proletários

A história de todas as sociedades até hoje existentes é a história das lutas de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor feudal e servo, mestre de corporação e companheiro, em resumo, opressores e oprimidos, em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora franca,

ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre ou por uma transformação revolucionária da sociedade inteira, ou pela destruição das duas classes em conflito.

Nas mais remotas épocas da História, verificamos, quase por toda parte, uma completa estruturação da sociedade em classes distintas, uma múltipla gradação das posições sociais. Na Roma antiga encontramos patrícios,

cavaleiros, plebeus, escravos; na Idade Média, senhores, vassalos, mestres das corporações, aprendizes, companheiros, servos; e, em cada uma destas classes, outras gradações particulares.

A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classe. Não fez mais do que estabelecer novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta em lugar das que existiram no passado.

Entretanto, a nossa época, a época da burguesia, caracteriza-se por ter simplificado os antagonismos de classe. A sociedade divide-se cada vez mais em dois campos opostos, em duas grandes classes em confronto direto: a burguesia e o proletariado ou numa linguagem mais moderna: ricos e pobres […].

Durkheim

Èmile Durkheim, as instituições e o indivíduo

Para o fundador da escola francesa de Sociologia, Èmile Durkheim, a

sociedade sempre está acima dos indivíduos, dispondo de certas regras,

normas, costumes e leis que asseguram sua continuidade. Essas regras e

leis independem do indivíduo e pairam sobre todos, formando uma consciência coletiva que dá o sentido de integração entre os membros da sociedade.

Elas se solidificam em instituições, que são a base da sociedade e que

correspondem, para Durkheim, a todo comportamento e crença instituídos

por uma coletividade.

A família, a escola, o sistema judiciário e o Estado são exemplos de instituições que congregam os elementos essenciais da sociedade, dando-lhe sustentação e garantindo-lhe a permanência. Durkheim dava tanta importância às instituições que definia a Sociologia como a ciência da gênese e do funcionamento das instituições sociais. Para não haver conflito ou desestruturação das instituições e, consequentemente, da sociedade, a transformação dos costumes e normas nunca seria realizada individualmente, mas de maneira lenta, ao longo de gerações.

A força da sociedade está na herança transmitida, por intermédio da educação, às gerações futuras. Essa herança são os costumes, as normas e os valores que nossos pais e antepassados nos legaram. Condicionado e controlado pelas instituições, cada membro de uma sociedade sabe como deve agir para não desestabilizar a vida comunitária; sabe também que, se não agir da forma estabelecida, será repreendido ou punido, dependendo da falta cometida.

O sistema penal é um bom exemplo dessa prática. Se um indivíduo comete determinado crime, deve ser julgado pela instituição competente — o sistema judiciário —, que aplica a penalidade correspondente. O condenado é retirado da sociedade e encarcerado em uma prisão, onde deve ser reeducado (na maioria das vezes não é isso o que acontece) para ser reintegrado ao convívio social.

Diferentemente de Marx, que vê a contradição e o conflito como elementos essenciais da sociedade, Durkheim enfatiza a necessidade da coesão e da integração para a sociedade se manter. Para ele, o conflito existe basicamente pela anomia, isto é, pela ausência ou insuficiência da normatização das relações sociais, ou por falta de instituições que regulamentem essas relações. Ele considera a socialização um fato social amplo, que dissemina as normas e valores gerais da sociedade — fundamentais para a socialização das crianças — e assegura a difusão de ideias que formam um conjunto homogêneo, fazendo que a sociedade permaneça integrada e se perpetue no tempo.

De acordo com Durkheim, para que um fenômeno social seja considerado

um fato social é necessário que seja:

  • coercitivo, isto é, que se imponha aos indivíduos e os leve a aceitar as normas da sociedade;
  • exterior aos indivíduos, isto é, que exista antes deles e não seja fruto das

consciências individuais;

  • geral, isto é, que atinja todos os indivíduos que fazem parte de uma sociedade.

A sociedade, a educação e os indivíduos

[…] cada sociedade, considerada num momento determinado do seu desenvolvimento, tem um sistema de educação que se impõe aos indivíduos como uma força geralmente irresistível. É inútil pensarmos que podemos criar os nossos filhos como queremos. Há costumes com os quais temos de nos conformar; se os infringimos, eles vingam-se nos nossos filhos. Estes, uma vez adultos, não se encontrarão em condições de viver no meio dos seus contemporâneos, com os quais não estão em harmonia. Quer tenham sido criados com ideias muito arcaicas ou muito prematuras, não importa; tanto num caso como noutro, não são do seu tempo e, por conseguinte, não estão em condições de vida normal. […]

Ora, não fomos nós, individualmente, que fizemos os costumes e as ideias que determinam este modelo. São o produto da vida em comum e exprimem as suas necessidades.

São até, na maior parte, obra de gerações anteriores. Todo o passado da humanidade contribuiu para fazer este conjunto de máximas que dirigem a educação atual; toda a nossa história lhe deixou traços, e até mesmo a história dos povos que nos precederam. […] Quando estudamos historicamente a maneira como são formados e desenvolvidos os sistemas de educação, apercebemo-nos que eles dependem da religião, da organização política, do grau de desenvolvimento das ciências, do estado da indústria, etc. Se os desligamos de todas estas causas históricas, tornam-se incompreensíveis […].

Fontes:

www.sbsociologia.com.br

www.editorasaraiva.com.br/dacio-tomazi

www.sbs2015.com.br

Fontes complementares:

Marx, Karl; Engels, Friedrich. Manifesto comunista.

São Paulo: Boitempo, 1998.

Durkheim, Èmile. Educação e sociologia. Lisboa:

Carlos Evangelista é jornalista (ESEEI) e especialista em Sociologia Política (UFPR). Este artigo reflete as opiniões do autor. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *