Carlos Evangelista

Carlos Evangelista

Agua é Vida, Escassez, Guerra à vista, Multinacionais da água, Privatização da água, Reflorestamento

Há uma corrida mundial para privatização da água. Principais interessadas para a comercialização de água mineral são dentre outras as empresas Nestlé e a Coca-Cola que estão buscando comprar fontes de água por toda a parte no mundo, inclusive no Brasil.

Engano seu se pensa que faltando água em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte ou noutros estados brasileiros, em nada será afetado, ainda que você more ou viva no “Sul Maravilha”.

Alguém pode achar barato o preço de uma garrafinha de água mineral, por 2 ou  3  reais ou  um  galão  de  20  litros  por  10 a  15 reais.  E o que dizer do aumento constante na conta de água? Na verdade este preço já é exorbitante e o que se constata é o surgimento de inúmeras empresas comercializando água em todo o território nacional e no mundo.

-O Brasil é rico em recursos hídricos e quando aqui faltar água o mundo já estará em guerra e daí seremos “ricos” pela possibilidade do fornecimento do precioso líquido a preços aviltantes. Será mesmo? Dirá algum abilolado.

Chega dá gastura só de ouvir autoridades adiantando que em breve a população brasileira beberá água  tratada dos rios Tietê, Guaíba, Iguaçu, São Francisco e outros, pois as projeções prenunciam a escassez do produto nos  reservatórios.  Isto nos obriga, como nunca antes, a repensar a questão da água e a desenvolver uma cultura do cuidado, resumindo em reduzir, reusar, reciclar, respeitar e reflorestar.

A falta de água pode ser motivo de guerra como de solidariedade social e cooperação entre os povos. Especialistas e grupos humanistas já sugeriram um pacto social mundial ao redor daquilo que é vital para todos: a água. Ao redor da água se criaria um consenso mínimo entre todos, povos e governos, em vista de um bem comum, nosso e do sistema-vida. Assim  sendo, nenhuma questão hoje é mais importante do que a da água. Dela depende a sobrevivência de toda a cadeia da vida e, consequentemente, de nosso próprio futuro.

Como afirma o brasileiro Leonardo Boff “Independentemente das discussões que cercam o tema da água, podemos fazer uma afirmação segura e indiscutível: a água é um bem natural, vital, insubstituível e comum. Nenhum ser vivo, humano ou não humano, pode viver sem a água”.

Consideremos rapidamente os dados básicos sobre a água no planeta Terra: ela já existe há 500 milhões de anos; 97,5% das águas dos mares e dos oceanos são salgadas. Somente 2,5% são doces. Mais de 2/3 dessas águas doces encontram-se nas calotas polares e geleiras e no cume das montanhas (68,9%); quase todo o restante (29,9%) são águas subterrâneas. Sobram 0,9% nos pântanos e apenas 0,3% nos rios e lagos. Destes 0,3%, 70% se destina à irrigação na agricultura, 20% à indústria e restam apenas 10% destes 0,3% para uso humano e dessedentação dos animais.

Existe no planeta cerca de um bilhão e 360 milhões de km cúbicos de água. Se tomarmos toda a água dos oceanos, lagos, rios, aquíferos e calotas polares e a distribuíssemos equitativamente sobre a superfície terrestre, a Terra ficaria mergulhada debaixo da água a três km de profundidade.

A renovação das águas é da ordem de 43 mil km cúbicos por ano, enquanto o consumo total é estimado em 6 mil km cúbicos por ano. Portanto, não há falta de água.

O problema é que se encontra desigualmente distribuída: 60% em apenas 9 países, enquanto 80 outros enfrentam escassez. Pouco menos de um bilhão de pessoas consome 86% da água existente enquanto para 1,4 bilhões é insuficiente (em 2020 serão três bilhões) e para dois bilhões, não é tratada, o que gera 85% das doenças segundo OMS. Presume-se que em 2032 cerca de 5 bilhões de pessoas serão afetadas pela escassez de água.

O Brasil é a potência natural das águas, com 12% de toda água doce do planeta perfazendo 5,4 trilhões de metros cúbicos. Mas é desigualmente distribuída: 72% na região amazônica, 16% no Centro-Oeste, 8% no Sul e no Sudeste e 4% no Nordeste. Apesar da abundância, não sabemos usar a água, pois 37% da tratada é desperdiçada, o que daria para abastecer toda a França,  a Bélgica, a Suíça e norte da Itália. É urgente, portanto, um novo padrão cultural em relação a esse bem tão essencial (cf.o estudo mais minucioso organizado pelo saudoso Aldo Rebouças, Aguas doces no Brasil: Escrituras, SP 2002).

Uma grande especialista em água que trabalha nos organismos da ONU sobre o tema, a canadense Maude Barlow, afirma em seu livro “Agua: pacto azul (2009): “A população global triplicou no século XX, mas o consumo da água aumentou sete vezes. Em 2050 quando teremos 3 bilhões de pessoas a mais, necessitaremos de 80% a mais de água somente para o uso humano; e não sabemos de onde ela virá”(17). Esse cenário é dramático, pois coloca claramente em xeque a sobrevivência da espécie humana e de grande parte dos seres vivos.

Há uma corrida mundial para privatização da água. Ai surgem grandes empresas multinacionais como as francesas Vivendi e Suez-Lyonnaise a alemã RWE, a inglesa Thames Water e a americana Bechtel. Criou-se um mercado das águas que envolve mais de 100 bilhões de dólares. Ai estão fortemente presentes na comercialização de água mineral a Nestlé e a Coca-Cola que estão buscando comprar fontes de água por toda a parte no mundo, inclusive no Brasil.

É certo também que a seca (falta de água) sempre existiu no nordeste brasileiro e pouco se falava, mas com a falta de água em São Paulo, o assunto ganhou  notoriedade  na mídia e está  chegando  na ONU,  em  forma  de alerta.

Por fim, é hora de refletirmos sobre “fome zero” sim, mas também incluir a “sede zero”, já que todo alimento que ingerimos exige o consumo de água.

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Você sabia que…Diz Greenpeace:

  • Dia 22 de março é o Dia Mundial da Água.
  • As algas produzem a maior parte do oxigênio da Terra.
  • O corpo humano possui na sua composição 3/4 de água.
  • O gotejamento de uma torneira desperdiça 1.380 litros por mês.
  • Cerca de 1,1 bilhão de pessoas não têm acesso à água tratada!

 

Entidades denunciam crise hídrica de São Paulo na ONU

Conectas, em apoio à Aliança pela Água, cita na 28ª sessão do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas medidas do governo paulista que afetam a população

Conectas e Aliança pela Água, da qual o Greenpeace faz parte, denunciarão a crise hídrica do Estado de São Paulo durante a 28ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, neste mês de março.

Em pronunciamento oral, as organizações irão alertar quanto à iminente situação de colapso no abastecimento de água na região, que ameaça o direito humano de acesso à água.

“A maior e mais rica região metropolitana do país está enfrentando a pior crise hídrica de sua história. Nossos principais reservatórios de água foram quase exauridos, colocando em risco o abastecimento de água de milhões de pessoas”, diz trecho do pronunciamento.

As entidades enfatizam a crise como consequência de décadas de políticas equivocadas na gestão e conservação da água e o uso indiscriminado do racionamento informal, chamado pelo governo de “redução de pressão”, que impacta principalmente as comunidades mais vulneráveis.

Com a denúncia, as organizações esperam acionar os mecanismos do Conselho de Direitos Humanos da ONU em defesa do direito humano de acesso à água dos cidadãos paulistas, como o Relator Especial da ONU para a Água. O pronunciamento está previsto para a manhã do dia 20.

A Conectas possui status consultivo nas Nações Unidas, o que permite participação nas sessões do Conselho. Reunindo representantes da sociedade civil e governos de 47 países membros, incluindo o Brasil, o CDH é a instância global por excelência para a discussão do tema dos direitos humanos.

Fontes:

http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Noticias/Entidades-denunciam-crise-hidrica-de-SP-na-ONU/

www.leonardoboff.wordpress.com

Carlos Evangelista é jornalista (ESEEI) e especialista em Sociologia Política (UFPR). Este artigo reflete as opiniões do autor. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.

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