Carlos Evangelista

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CARLOS EVANGELISTA, POESIA

Helena Kolody – Tributo a Poesia

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Nasceu no dia 12/10/1912 na cidade de Cruz Machado-PR e faleceu em Curitiba no dia 15/02/2004 aos 92 anos de idade.

Filha de imigrantes ucranianos que se conheceram no Brasil Helena Kolody passou parte da infância na cidade de Rio Negro, onde fez o curso primário. Estudou piano, pintura e, aos doze anos, fez seus primeiros versos.

Seu primeiro poema publicado foi A Lágrima, aos 16 anos de idade, e a divulgação de seus trabalhos, na época, era através da revista Marinha, de Paranaguá.

Aos 20 anos, Helena iniciou a carreira de professora do Ensino Médio e inspetora de escola pública. Lecionou no Instituto de Educação de Curitiba por 23 anos. Helena Kolody, segundo o que consta em seu livro Viagem no Espelho, foi professora da Escola de Professores da cidade de Jacarezinho, onde lecionou por vários anos.

Seu primeiro livro, publicado em 1941, foi Paisagem Interior, dedicado a seu pai, Miguel Kolody, que faleceu dois meses antes da publicação.

Helena se tornou uma das poetisas mais importantes do Paraná, e praticava principalmente o haicai, que é uma forma poética de origem japonesa, cuja característica é a concisão, ou seja, a arte de dizer o máximo com o mínimo. Foi a primeira mulher a publicar haicais no Brasil, em 1941.

Neste breve espaço coletamos e queremos também através da sua poesia imortalizar a professora e poetisa paranaense Helena Kolody que tanto ensinou, cantou a natureza, a vida e partiu…

Obviamente que muitos poemas e escritos de HK ainda irão surgir aqui e acolá, como se perdidos e achados nos mais imprevistos esconderijos onde possa caber um verso, um poema, uma poesia, um haicai; enfim, um grito poético.

helenakolody

Música Submersa
Não quero ser o grande rio caudaloso
Que figura nos mapas.
Quero ser o cristalino fio d’água
Que canta e murmura
Na mata silenciosa.

INFÂNCIA (1951)
Pão feito em casa,
Com mel dourado,
Cheirando a favo.
No campo, recendente a camomila.
Alegria de correr até cair.
Do tempo, só se sabia
Que no ano sempre existia
O bom tempo das laranjas
E o doce tempo dos figos…

SONHAR (1941)
Sonhar é transportar-se em asas de ouro e aço
Num vôo poderoso e audaz de fantasia.

ELOGIO DO POETA (1941)
Quando os homens viram os olhos do poeta,
Acharam em sua luz a luz do próprio olhar
E no seu sonho o próprio sonho refletido.
No ritmo de seu verso, então, reconheceram
A canção que cantariam, se soubessem cantar.

CÂNTICO ( 1941)
A luz do teu olhar é a estrela solitária
Da noite deste amor, que é feito de silêncio.

VITÓRIA ÍNTIMA (1941)
Como a penumbra da noite,
A meditação desceu em seu olhar
E acendeu dentro de mim a lâmpada serena.

NOITE 
Luar nos cabelos.
Constelações na memória.
Orvalho no olhar.

SAUDADES
Um sabiá cantou.
Longe, dançou o arvoredo.
Choveram saudades

A LÁGRIMA   (seu primeiro poema)
Oh! lágrima cristalina
Tão salgada e pequenina
Quanta dor tu redimes
Mesmo feita de amarguras
És tão sublime tão pura
Que só virtudes exprimes.

LIÇÃO

A luz da lamparina dançava
frente ao ícone da Santíssima Trindade.
Paciente, a avó ensinava
a prostrar-se em reverência,
persignar-se com três dedos
e rezar em língua eslava.
De mãos postas, a menina
fielmente repetia
palavras que ela ignorava,
mas Deus entendia.
Helena Kolody – “Poesias escolhidas”
(em português e ucraniano).

SONHAR
Sonhar é transportar-se em asas de ouro e aço
Aos páramos azuis da luz e da harmonia;
É ambicionar o céu; é dominar o espaço
Num vôo poderoso e audaz da fantasia.
Fugir ao mundo vil, tão vil que, sem cansaço,
Engana, e menospreza, e zomba, e calunia;
Encastelar-se, enfim, no deslumbrante Paço
De um sonho puro e bom, de paz e de alegria.
É ver no lago um mar, nas nuvens um castelo,
Na luz de um pirilampo um sol pequeno e belo;
É alçar constantemente o olhar ao céu profundo.
Sonhar é ter um grande ideal na inglória lida:
Tão grande que não cabe inteiro nesta vida,
Tão puro que não vive em plagas deste mundo.

NAVEGANTE
Navegou
no veleiro dos livros.

Desembarcou
e conferiu.

E o mundo que viu
não era o que imaginou.
   (em Viagem no Espelho)

INFÂNCIA  II

Aquelas tardes de Três Barras,

Plenas de sol e de cigarras!

Quando eu ficava horas perdidas

Olhando a faina das formigas

Que iam e vinham pelos carreiros,

No áspero tronco dos pessegueiros.

A chuva-de-ouro

Era um tesouro,

Quando floria.

De áureas abelhas

Toda zumbia.

Alfombra flava

O chão cobria…

O cão travesso, de nome eslavo,

Era um amigo, quase um escravo.

Merenda agreste:

Leite crioulo,

Pão feito em casa,

Com mel dourado,

Cheirando a favo.

Ao lusco-fusco, quanta alegria!

A meninada toda acorria

Para cantar, no imenso terreiro:

“Mais bom dia, Vossa Senhoria”…

“Bom barqueiro! Bom barqueiro…”

Soava a canção pelo povoado inteiro

E a própria lua cirandava e ria.

Se a tarde de domingo era tranquila,

Saía-se a flanar, em pleno sol,

No campo, recendente a camomila.

Alegria de correr até cair,

Rolar na relva como potro novo

E quase sufocar, de tanto rir!

No riacho claro, às segundas-feiras,

Batiam roupas as lavadeiras.

Também a gente lavava trapos

Nas pedras lisas, nas corredeiras;

Catava limo, topava sapos

(Ai, ai, que susto! Virgem Maria!)

Do tempo, só se sabia

Que no ano sempre existia

O bom tempo das laranjas

E o doce tempo dos figos…

Longínqua infância… Três Barras

Plena de sol e cigarras!

(Helena Kolody, in A Sombra no Rio, 1951)

 

PELOS BAIRROS ESQUECIDOS

Pelos bairros esquecidos,

tantos passos,

tantos risos,

tantos sonhos perdidos!

 

DOM 

Deus dá a todos uma estrela.

Uns fazem da estrela um sol.

Outros nem conseguem vê-la.

 

MERGULHO

Almejo mergulhar

na solidão e no silêncio,

para encontrar-me

e despojar-me de mim,

até que a Eterna Presença

seja a minha plenitude.

( in Sempre Palavra, 1985)

 

PRECE

Concede-me, Senhor, a graça de ser boa,

De ser o coração singelo que perdoa,

A solícita mão que espalha, sem medidas,

Estrelas pela noite escura de outras vidas

E tira d’alma alheia o espinho que magoa.

( in Paisagem Interior, 1941)

 

VIGÍLIA

A noite é profunda,

Silente e de trevas.

Ao lado de teu corpo, imóvel e sereno,

Estou a contemplar-te, Pai.

Por estranhos caminhos,

Cheios de neblina,

Anda minh’alma soluçante,

A clamar por ti.

Teus olhos fitam muito longe

Um olhar imensamente triste.

A chama dos círios dança sem cessar

Em tuas pupilas mortas,

Tentando desviar tua mirada

De um ponto fixo na eternidade.

Círio recôndito,

Arde meu coração e se consome.

Há longos espinhos aguçados

Esgarçando meus nervos sensíveis.

Beijo tuas mãos pálidas e tristes,

Humildes mãos cansadas,

Agora consteladas

Por líquidos brilhantes.

Por estranhos caminhos,

Cheios de neblina,

Anda minh’alma soluçante,

A clamar por ti.

 

POESIA MÍNIMA

Pintou estrelas no muro

e teve o céu

ao alcance das mãos.

 

POETA

O poeta nasce no poema,

inventa-se em palavras.

( Infinito Presente, 1980)

 

CIRCUITO

Os olhos que mergulham no poema

completam o circuito da poesia.

(in Infinito Presente, 1980)

 

INTERCORRÊNCIA

Entre o gesto e a sombra,

há luz e distância

e uma geometria

de ângulos e planos.

(in Tempo, 1970)

 

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SEMPRE MADRUGADA 

Para quem viaja ao encontro do sol,

é sempre madrugada.

(in Sempre Palavra, 1985)

 

ANOITECER

Amiudam-se as partidas…

Também morremos um pouco

no amargor das despedidas.

Cais deserto, anoitecemos

enluarados de ausências.

(in Infinito Presente, 1980)

 

A POESIA IMPOSSÍVEL

Inquietação de marinheiro

Que sente o mar e seu chamado…

Não poder embarcar!

Prisioneiro do nada,

Pássaro mutilado

Que a distância fascina…

(in Vida Breve, 1964)

 

CANÇÃO DE NINAR

(para uma criança da favela)

Criança, és fio d’água

Triste desde a fonte,

Humilde plantinha

Nascida em monturo:

Quanta ausência mora

Nesse olhar escuro!

Recosta a cabeça

Na minha cantiga.

Deixa que te envolva,

Que te beije e embale.

(in Vida Breve, 1964)

 

IDENTIFICAÇÃO

Eu me diluí na alma imprecisa das coisas.

Rolei com a Terra pela órbita do infinito,

Jorrei das nuvens com a torrente das chuvas

E percorri o espaço no sopro do vento;

Marulhei na corrente inquietadora dos rios,

Penetrei a mudez milenária das montanhas;

Desci ao vácuo silencioso dos abismos;

Circulei na seiva das plantas,

Ardi no olhar das feras,

Palpitei nas asas das pombas;

Fui sublime n’alma do homem bom

E desprezível no coração do mesquinho;

Inebriei-me da alegria do venturoso;

E deslizei dolorosamente na lágrima do infeliz.

Nada encontrei mais doloroso,

Mais eloquente,

Mais glorioso

Do que a tragédia cotidiana

Escrita em cada vida humana.

 

BOLA DE CRISTAL  

Se interrogas o passado,

mente o cristal da memória

para tornar-te feliz.

( in Infinito Presente, 1980)

 

ADVERTÊNCIA 

É meio-dia em minha vida.

Um mensageiro inesperado

Vem prevenir que apresse a lida,

Como se fosse anoitecer.

Vento da noite, ainda é cedo!

… e nem lavrei a terra agreste.

(in A Sombra no Rio, 1951)

 

RESSONÂNCIA
Bate breve o gongo.
Na amplidão do templo ecoa
o som lento e longo.

 

FLECHA DE SOL 
A flecha de sol
pinta estrelas na vidraça.
Despede-se o dia.

 

NOITE 
Luar nos cabelos.
Constelações na memória.
Orvalho no olhar.

 

SAUDADES 
Um sabiá cantou.
Longe, dançou o arvoredo.
Choveram saudades.

 

REPUXO ILUMINADO 
Em líquidos caules,
irisadas flores d’água
cintilam ao sol.

 

DEPOIS 
Será sempre agora.
Viajarei pelas galáxias
universo afora.

 

ALQUIMIA 
Nas mãos inspiradas
nascem antigas palavras
com novo matiz.

 

JORNADA 
Tão longa a jornada!
E a gente cai, de repente,
No abismo do nada.

 

RETRATO ANTIGO (1988)
Quem é essa
que me olha
de tão longe,
com olhos que foram meus?

 

VOZ DA NOITE (1986)
O sol se apaga.
De mansinho,
a sombra cresce.

A voz da noite
diz, baixinho:
esquece… esquece…

 

A MIRAGEM NO CAMINHO (1978)
Perdeu-se em nada,
caminhou sozinho,
a perseguir um grande sonho louco.

(E a felicidade
era aquele pouco
que desprezou ao longo do caminho).

 

DOM
Deus dá a todos uma estrela.
Uns fazem da estrela um sol.
Outros nem conseguem vê-la.


POESIA MÍNIMA

Pintou estrelas no muro
e teve o céu
ao alcance das mãos.

 

Felicidade

Os olhos do amado

Esqueceram-se nos teus,

Perdidos em sonho.

AREIA

Da estátua de areia,

nada restará,

depois da maré cheia.

 

HAI-KAIS

Deus dá a todos uma estrela.
Uns fazem da estrela um sol.
Outros nem conseguem vê-la.

Arco-íris no céu.
Está sorrindo o menino
que há pouco chorou.

Trêmula gota de orvalho
Presa na teia de aranha,
Rebrilhando como estrela.

Festa das Lanternas!
Os ipês estão luzindo
De globos cor-de-ouro.

Corrida no parque.
O menino inválido
aplaude os atletas.

Nas flores do cardo,
leve poeira de orvalho.
Manhã no deserto.

O brilho da lâmpada,
no interior da morada,
empalidece as estrelas.

A morte desgoverna a vida.
Hoje sou mais velha
que meu pai.

 

ANTES

Antes que desça a noite,

imprimir na retina

os rostos amados,

o sol

as cores,

o céu de outono

e os jardins da primavera.

Inundar de sons

de vozes

e de música eterna

os ouvidos

antes que os atinja

a maré do silêncio.

Conquistar

os pontos culminantes

da vida,

antes que se esgote

o prazo de permanência

em seu território sagrado.

 

PÂNICO

Não há mais lugar no mundo.

Não há mais lugar.

 

Aranhas do medo

fiam ciladas no escuro

Nos longes, pesam tormentas.

Rolam soturnos ribombos.

Súbito,

precipita-se nos desfiladeiros

a vida em pânico.

 

ABISMAL

Meus olhos estão olhando
De muito longe, de muito longe,
Das infinitas distâncias
Dos abismos interiores.
Meus olhos estão a olhar do extremo longínquo
Para você que está diante de mim.
Se eu estendesse a mão, tocaria a sua face.

 

MAQUINOMEM

O homem esposou a máquina
e gerou um híbrido estranho:
um cronômetro no peito
e um dínamo no crânio.
As hemácias de seu sangue
são redondos algarismos.

Crescem cactos estatísticos
em seus abstratos jardins.

Exato planejamento,
a vida do maquinomem.
Trepidam as engrenagens
no esforço das realizações.

Em seu íntimo ignorado,
há uma estranha prisioneira,
cujos gritos estremecem
a metálica estrutura;
há reflexos flamejantes
de uma luz imponderável
que perturbam a frieza
do blindado maquinomem.

 

EXILADOS

Ensimesmados,

olham a vida

como exilados

fitando o mar.

Não estão no mundo

como quem o habita.

Estão de visita

num planeta estranho.

 

TRANSEUNTES

Transeuntes

da vida provisória:

que rumor de asas eternas

para além das fronteiras e dos símbolos!

 

OSCILAÇÃO

A cada oscilar do pêndulo

algo se apaga

ou para nós termina.

De segundo em segundo,

algo germina

ou para nós floresce.

 

JOVEM

Suporta o peso do mundo.

E resiste.

Protesta na praça.

Contesta.

Explode em aplausos.

Escreve recados

nos muros do tempo.

E assina.

Compete

no jogo incerto da vida.

Existe.

 

VÔO CEGO

Em vôo cego,

singro o nevoeiro.

Onde o radar que me guie?

Perco-me em labirintos interiores.

Que mistérios defendem

tantas portas seladas?

Quem me cifrou em enigmas?

 

FUGITIVO INSTANTE

Captar os seres

em seu fugitivo instante de beleza.

ESPELHISMO

Olhou numa poça d’água

e viu a mão estendida.

Alongou a própria destra,

num impulso de acolhida

Mas, a mão tocou em nada

Era, apenas, refletida

no espelho da água parada,

a sua mão estendida.

 

LOUCURA LÚCIDA

Pairo, de súbito,

noutra dimensão

Alucina-me a poesia,

loucura lúcida.

 

MENTIRA

Mentira que as rosas

Rosas são de veludo.

São da roseira, os espinhos.

 

ALEGRIA DE VIVER

Amo a vida.

Fascina-me o mistério de existir.

Quero viver a magia

de cada instante,

embriagar-me de alegria.

Que importa a nuvem no horizonte,

chuva de amanhã?
Hoje o sol inunda o meu dia.

 

SEM AVISO

Sem aviso,

o vento vira

uma página da vida

 

TERNURA-MENINA

Saudade,

ternura-menina,
lua cheia sobre o mar.

Navego no seu quebranto,
sem vontade de voltar.

 

ILHAS

Somos ilhas no mar desconhecido.

O grande mar nos une e nos separa.

Fala de longe o aceno leve das palmeiras.

Mensagens se alongam nas líquidas veredas.

Cada penhasco é tão sozinho e diferente!

Ninguém consegue partilhar a solidão.

Ilhas no grande mar, aprisionadas.

Apenas o perfil das outras ilhas, vemos.

Só Deus conhece nossa exata dimensão.

 

FIM DE JORNADA

Caminhar ao encontro da noite.

Como o camponês regressa ao lar.

Após um longo dia de verão.

 

Sem pressa ou cuidado.

Na tarde ouro e cinza.

Sozinho entre os campos lavrados.

E as colinas distantes.

Caminhar, ao encontro da noite.

Sem pressa ou cuidado.

A noite é somente uma pausa de sombra.

Entre um dia e outro dia.

 

(De Vida Breve, 1964)

 

ATAVISMO

Quando estou triste e só, e pensativa assim,

É a alma dos ancestrais que sofre e chora em

/mim.

A angústia secular de uma raça oprimida

Sobe da proíünde2a e turva a minha vida.

Certo, guardo latente e difusa em meu ser,

A remota lembrança dos dias amargos

Que eles viveram sem a ansiada liberdade.

Eu que amo tanto, tanto, os horizontes largos,

Lamento não ser águia ou condor, para voar

Até onde a força da asa alcance a me levar.

Ante a extensão agreste e verde da campina,

Não sei dizer por que, muitas vezes, senti

Saudade singular da estepe que não vi.

 

Pois, até o marulhar misterioso e sombrio

Da água escura a correr seu destino de rio,

Lembra, sem o querer, numa impressão falaz,

O soturno Dnipró, cantado por Taras…

 

Por isso é que eu surpreendo, em alta

/intensidade,

Acordada em meu sangue, a tara da saudade

 

(De Paisagem Interior, 1941)

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ARAUCÁRIA

Araucária,

Nasci forte e altiva,

Solitária.

Ascendo em linha reta

– Uma coluna verde-escura

No verde cambiante da campina.

Estendo braços hirtos e serenos.

Não há na minha fronde

Nem veludos quentes de folhas,

Nem risos vermelhos de flores,

Nem vinhos estonteantes de perfumes.

Só há o odor agreste da resina

E o sabor primitivo dos frutos.

Espalmo a taça verde no infinito.

Embalo o sono dos ninhos

Ocultos em meus espinhos,

Na silente nudez do meu isolamento.

(in Paisagem Interior, 1941)

 

Tempo

Cai a areia da vida

Na ampulheta da morte.

Sem aviso

Sem aviso,

o vento vira

uma página da vida

 

Pânico

Não há mais lugar no mundo.

Não há mais lugar.

Aranhas do medo

fiam ciladas no escuro

Nos longes, pesam tormentas.

Rolam soturnos ribombos.
Alegria

Trêmula gota de orvalho
presa na teia de aranha,
rebrilhando como estrela.

.
Flecha de sol

A flecha de sol
pinta estrelas na vidraça.
Despede-se o dia.

.
Ipês floridos

Festa das lanternas!
Os ipês se iluminaram
de globos de cor-de-ouro.

Deus dá a todos uma estrela.
Uns fazem da estrela um sol.
Outros nem conseguem vê-la.

Idade

A morte desgoverna a vida.
Hoje sou mais velha
que meu pai.

 

FIO D´ÁGUA

”Não quero ser o grande rio caudaloso
Que figura nos mapas.

Quero ser o cristalino fio d’água
Que canta e murmura na mata silenciosa.”

(in Sinfonia da Vida)
RESSONÂNCIA
Bate breve o gongo.
Na amplidão do templo ecoa
o som lento e longo.

 

FLECHA DE SOL 
A flecha de sol
pinta estrelas na vidraça.
Despede-se o dia.

 

REPUXO ILUMINADO 
Em líquidos caules,
irisadas flores d’água
cintilam ao sol.

 

DEPOIS 
Será sempre agora.
Viajarei pelas galáxias
universo afora.

 

ALQUIMIA 
Nas mãos inspiradas
nascem antigas palavras
com novo matiz.

 

JORNADA 
Tão longa a jornada!
E a gente cai, de repente,
No abismo do nada.

 

SEMPRE MADRUGADA 
Para quem viaja ao encontro do sol,
é sempre madrugada.

 

RETRATO ANTIGO (1988)
Quem é essa
que me olha
de tão longe,
com olhos que foram meus?

 

VOZ DA NOITE (1986)
O sol se apaga.
De mansinho,
a sombra cresce.

A voz da noite
diz, baixinho:
esquece… esquece…

 

A MIRAGEM NO CAMINHO (1978)
Perdeu-se em nada,
caminhou sozinho,
a perseguir um grande sonho louco.

(E a felicidade
era aquele pouco
que desprezou ao longo do caminho).

 

DOM
Deus dá a todos uma estrela.
Uns fazem da estrela um sol.
Outros nem conseguem vê-la.
POESIA MÍNIMA
Pintou estrelas no muro
e teve o céu
ao alcance das mãos.

Fonte:

www.poesiaspoemaseversos.com.br/helenakolody-haikais/

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Carlos Evangelista é jornalista (ESEEI) e especialista em Sociologia Política (UFPR). Este artigo reflete as opiniões do autor. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.

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