FUTEBOL: Ópio do povo brasileiro provoca tristeza e choro Brasil afora
Não vou chorar porque o Brasil perdeu numa partida de futebol. Ainda que seja na fase semifinal da Copa do Mundo em nossa casa. Mas admito que estou deveras muito triste e envergonhado. Soluços vários ainda teimam escapar volta e meia.
Não vou sair por aí quebrando tudo que vejo pela frente, incendiando ônibus, brigando ou feito louco no trânsito só porque eu queria que a Seleção Brasileira ganhasse mais essa partida de futebol ou o caneco tão cobiçado.
Não vou arrumar pé de guerra com a minha família, vizinhos ou colegas do trabalho e também não vou culpar os jogadores, o técnico Felipão, a comissão técnica ou a presidente Dilma só porque saiu tudo errado no jogo do Brasil contra a forte e organizada Alemanha.
Não vou esquecer jamais dessa partida catastrófica quando numa semifinal no dia 8 de julho de 2014 o Brasil perdeu de 7 a 1 para a Alemanha, numa partida que sepultou de vez a pecha de que o Brasil é o País do futebol.
Não vou aceitar passivamente também que eles os alemães, argentinos ou holandeses (quem for o campeão) aqui no nosso quintal zombem de mim, do povo brasileiro ou do nosso querido e solapado Brasil.
Não vou me trancar num quartinho escuro ou me embebedar no boteco da esquina só porque a Seleção do Brasil perdeu de forma vergonhosa no Mineirão, numa partida de futebol que sepulta definitivamente o nome de alguns jogadores da “Família Escolari”, este último assumindo a culpa pelo evidente erro tático na escalação do time que culminou no maior fiasco futebolístico do planeta e na maior derrota da seleção nos seus quase cem anos de disputa em Copa do Mundo.
Não vou culpar a Globo, o Galvão Bueno, o teatro neymarístico, o excesso de tietagem, ou a equipe do Brasil que jogou para o Neymar (com direito a desfile ridículo de bonés) e esqueceu de jogar para a seleção, para a Pátria e para o povo.
Não vou ficar remoendo mágoas pela desclassificação e pelo fim do sonho em ser hexa aqui em casa. Pois sei também que eles os jogadores continuarão ganhando milhões em seus clubes e o “coitadinho do Neymar” que não teve culpa nenhuma do vexame, prosseguirá embolsando seus aproximados dez milhões por mês, enquanto o povo brasileiro vê a carestia no custo de vida e tendo um serviço público caótico de assistência ao cidadão. Sem falar da banalidade na educação e nos mais diversos setores, em meio a cancerosa corrupção que se alastra na administração pública desta nossa capenga democracia.
Não vou parar de bater a minha bolinha nos dias de folga, durante os fins de semana. Quero sim ver surgir uma nova e aguerrida Seleção Brasileira de Futebol porque logo mais em 2018 estaremos todos e outra vez vestindo a camisa do Brasil ou enrolados na Bandeira Brasileira, de cara pintada ou não, assistindo a Copa do Mundo na Rússia, querendo e torcendo pelo escrete canarinho que é feito de gente como nós passivos de acertos e erros.
Não vou tampouco lamentar se o Brasil for terceiro ou quarto lugar. Assim sendo penso que devo (ou devemos) agradecer a Seleção Brasileira pelo amor pátrio despertado neste momento e porque não dizer pelos dias de folga que ela a Seleção Brasileira fez criar no nosso já extenso calendário de feriados. O resto é fruto da nossa paixão e imaginação, mas sabedores de que futebol é ópio do povo tupiniquim. A vida segue, mesmo porque o orgulho de ser brasileiro deve sempre continuar.
Carlos Evangelista é jornalista (ESEEI) e especialista em Sociologia Política (UFPR). Este artigo reflete as opiniões do autor. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.