Foi encerrado no último domingo de outubro o processo das eleições municipais de 2012, no Brasil. Para melhor compreender este fenômeno social, político e financeiro, estivemos coletando amostras do processo conforme traduz a sociologia política, através dos debates, modelos de campanhas, mão forte do governo federal, empenho das equipes, estratégias e os resultados obtidos. Foram escolhidas Curitiba e São José dos Pinhais, no Paraná e São Paulo e Campinas, no Estado de São Paulo.
Em Curitiba a imagem de bom moço, sério, responsável, inteligente, capacitado e comunicativo fortaleceu a campanha no segundo turno para Gustavo Fruet, contra o deputado federal, Ratinho Junior, que no segundo turno ficou perdido no quesito marketing, confundindo com propaganda e agressão. Agredir na mídia é perder nas urnas. Com 60,65% contra 39,90% dos votos válidos, foi eleito Gustavo Fruet- PDT, prefeito de Curitiba, com 1.054.583 eleitores, onde 16,92% votaram nulos, brancos ou se abstiveram. Fruet recebeu apoio do PT que tem uma petista na vice.
Em São Paulo, com mais de oito milhões de eleitores, o ex-presidente Luiz Inácio da Silva e a presidente Dilma Roussef trabalharam com afinco e elegeram Fernando Haddad prefeito de São Paulo. Numa estratégia feliz do ex-presidente Lula, São Paulo, a maior cidade do Brasil, será administrada pelo PT, após oito anos, enterrando de vez a saga tucana de embromar em nome de uma política da social democracia. Ainda que o PT tenha feito acordos com Paulo Maluf, é preciso reconhecer a estratégia petista de fazer campanha em São Paulo.
Entretanto, na cidade de Campinas, com 785 mil eleitores, terceira economia do Estado de São Paulo, mesmo reunindo o candidato Marcio Pochmann, Lula, Dilma e o atual prefeito derrotado, o vencedor foi Jonas Donizete do PSC, com 59% dos votos contra 41% do oponente. Num debate realizado pela TV Record, no segundo turno, o candidato petista bateu forte no adversário. Jonas, com melhor preparo político soube jogar Pochamann contra a população e conquistou a prefeitura da cidade, que nos últimos quatro anos teve três prefeitos.
Em São José dos Pinhais, com 178 mil eleitores, terceira economia do Estado do Paraná, das quatro cidades enfocadas é a única que não teve 2º turno e o vencedor foi o ex-prefeito e atual deputado federal, Luiz Carlos Setim-DEM, seguido por Rodrigo Rocha Loures-PMDB, que deixou a terceira posição para o atual prefeito Ivan Rodrigues, do PSD. Os são-joseenses optaram eleger a melhor estratégia de campanha, deixando o melhor candidato em segunda colocação e disseram não a melhor propaganda do atual prefeito.
Para melhor dinamizar as eleições e os resultados, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) investe pesado em tecnologia da informação e vimos um processo ágio, confiável e bem comandado pela Justiça Eleitoral, sendo Curitiba a cidade brasileira mais rápida na apuração dos votos, em menos de trinta minutos, enquanto a apuração nacional foi de menos de cinco horas.
Abstenções
Chama atenção o crescente número de abstenções no processo eleitoral. Em Curitiba, chegou a quase 17% os eleitores que se abstiveram, votaram nulo ou branco, porém em São Paulo este índice chegou a 31,59%. Sem dúvida, um fenômeno social que certamente obriga partidos e justiça eleitoral, mudarem as regras, obrigatoriedade, multas, etc, Vai a justiça eleitoral ouvir essas pessoas que repudiam e ameaçam a democracia brasileira? Longe disso, mas talvez essas pessoas querem dizer apenas que gostariam antes de defenderem a democracia participativa; aquela em que o povo é soberano, diante dos políticos. Ou essa parcela de não votantes gostaria do exercício sagrado do voto nas decisões do aumento dos impostos, temas sociais para definição de políticas públicas, modernização das leis e muito mais, que só os referendos, plebiscitos e iniciativa popular possibilitam.
Mas no Brasil, infelizmente, o eleitor é convidado a participar somente de dois em dois, ou de quatro em quatro anos, fora desse período o eleitor é extremamente desrespeitado em ver, por exemplo, ajudar eleger fulano a um cargo e ele opta por outra função, ao seu bel prazer e vantagens, perpetuação pessoal e familiar no legislativo, etc.
Assim, este modelo de democracia representativa no Brasil, ludibria o povo, que nas urnas dá uma banana as blindagens no processo político, as agressões no horário político gratuito, ao exibicionismo das carreatas sinalizando e surpreendendo os mais experientes postulantes a cargos políticos. Mas é o modelo que temos na atualidade. Ainda que defensor dos políticos profissionais (partidários e apadrinhados) da hereditariedade (familiares de políticos) a democracia representativa assim como tudo muda, fica evidente nas urnas que perde espaço para a democracia participativa, sem a exigência da filiação a esse ou aquele partido. Mas para mim basta que o novo prefeito seja como um pai de família, no amor, na ética e na justiça, conforme reza este ano a CNBB, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
Cidadania Ativa
Como afirma a cientista política Maria Victória Benevides, da USP, no livro A Cidadania Ativa, 1991, da editora Ática, “a definição de democracia enfatiza soberania popular, mas com a clara definição de seus limites para que não ocorra a tirania da maioria. Assim a democracia representativa continua indispensável. Mas se quero desenvolvimento com democracia tenho de querer também um sistema de solidariedade social, com reflexões sobre direitos humanos à temática da educação para a democracia participativa e que a cidadania ativa é indispensável entre democracia participativa e educação política do cidadão para compreensão dos valores republicanos, com respeito às leis, ao bem público e com virtudes do amor e igualdade e respeito integral aos direitos das minorias à informação e expressão”.
Resultados das eleições 2012 em:
São Paulo:
8.619.170 eleitores, com 31,59% dos votos nulos, brancos e abstenções, Fernando Hadad-PT obteve 55,57% contra 44,43% de José Serra-PSDB.
Campinas: 785.274 eleitores, com 32,83% de abstenções, votos nulos e brancos, Jonas Donizete do PSB teve 57,69% dos votos, contra 42,31% do petista Marcio Pochamann.
Curitiba:
1.054.583 eleitores, Gustavo Fruet- PDT, com 60,65% dos votos contra 39,35% de Ratinho Junior. 16,92% dos eleitores votaram nulos, brancos ou se abstiveram.
São José dos Pinhais:
Com 178.151 eleitores o eleito foi Luiz Carlos Setim-DEM, que obteve 39,97% dos votos contra 26,51% pró Rocha Loures-PMDB, com 24,27% de votos nulos, brancos e abstenções.
Fonte (Tribunal Superior Eleitoral- www.divulga.tse.jus.br
Carlos Evangelista é jornalista (ESEEI) e especialista em Sociologia Política (UFPR). Este artigo reflete as opiniões do autor. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.