Roberto Requião, governador do Paraná
1- O Jornal Metrópole está completando 10 anos neste dia 18 de março de 2009. Para o Governador, qual a importância dos jornais do interior do Paraná?
O jornal da cidade, da vizinhança, que leva as notícias da comunidade, é oque está mais perto do leitor. Pois, se são menores na tiragem, na circulação, que os jornalões, os jornais do interior — e os jornalistas que os escrevem — são gente de casa, com quem nos encontramos para uma conversa no banco da praça, no balcão da padaria, para sabermos o que acontece na cidade, na região, no Estado. E, assim, também é próxima, imediata, personalizada, a cobrança, o protesto, caso haja algum desacerto na informação. Pois não falamos de grandes corporações, em que o leitor é número, é cifra. No jornal do interior, o leitor também é gente conhecida, é de casa. E, nessa relação mais estreita, acredito, espero, que o apreço pela informação seja maior, de parte a parte, pois a credibilidade é conquistada no seio da comunidade, e não apregoada em propagandas caras na televisão. E, assim, o pequeno jornal do interior se torna importante quando pauta sua existência pela relevância do serviço que presta a sua comunidade, e não pela futrica política, pela defesa de grandes interesses econômicos, como fazem hoje quase que invariavelmente os jornalões paranaenses e brasileiros. Pois, quando o jornalão defende Wall Street, os tais investidores do mercado financeiro, fala de um mundo que — embora muito nos afete — nos parece irreal, e é mesmo distante de nossas casas, de nossas vidas. E acabamos, até, por acreditar na cantilena que tanto ouvimos repetida, mesmo que ela tenha pouca ou nenhuma vinculação com os fatos. O jornal do interior fala da nossa rua, do buraco na avenida central, do esgoto clandestino do rio da cidade. Fala, em resumo, do nosso cotidiano, e isso nós conhecemos muito bem. Assim, quando um jornal como o Metrópole comemora dez anos devida, é sinal de que soube respeitar seu público, sua comunidade, e por isso ganhou crédito.
2- São José dos Pinhais está comemorando mais um aniversário (156 anos de emancipação política), concomitantemente com a Festa do Padroeiro São José. Para o Governo do Estado Paraná, qual a importância de São José dos Pinhais na RMC, nos aspectos econômico e social? Cite algumas das principais obras que o Governo do Estado realizou em São José dos Pinhais nos últimos 6 anos? Em que área o Governo do Paraná dedicou mais atenção?
São José dos Pinhais é a cidade mais populosa da Grande Curitiba depois da capital, e é também o quinto maior município da Região Metropolitana. É sede do aeroporto internacional que atende Curitiba, é sede de grandes empresas paranaenses, como a Nutrimental, o Boticário, tem um grande campus da PUC/PR, abriga o terceiro pólo automotivo do País. São fatos que falam por si, que tornam a cidade uma das mais importantes do Paraná, e que demandam a atenção do Governo do Paraná.
Os investimentos do Estado em São José dos Pinhais estão em todas as áreas. Em infraestrutura, por exemplo, estamos investindo R$ 9,1milhões para construir a nova interseção das Avenidas Rui Barbosa e das Torres. Estamos fazendo ali uma trincheira moderníssima, com 9alças de acesso, facilitando o acesso ao Aeroporto, ao Centro da cidade, à Avenida das Américas, a Curitiba e à BR-376. Para que se tenha uma ideia do tamanho da obra, apenas a terraplanagem envolve a remoção de 70 mil metros cúbicos de terra, o suficiente para formar uma camada de 1 metro de altura sobre dez campos de futebol. A obra já está em andamento.
Estamos fazendo o Terminal Metropolitano de Transporte Coletivo, ali na Avenida das Américas com a Rua Claudino dos Santos. São R$ 4,1milhões que o Governo do Paraná investe num terminal amplo, com capacidade para atender 72 mil passageiros por dia e 29 plataformas para 31 linhas de ônibus. Também é trabalho do nosso governo a duplicação da Avenida das Américas. Ali, investimos R$ 6,6 milhões em 1,4 quilômetro de duplicação, que incluem a ampliação da ponte sobre o Rio Iguaçu.
A nossa Sanepar entregou, no fim de 2008, o Complexo Miringuava, fruto do investimento de R$ 143 milhões, que acabou com o risco de racionamento de água na Grande Curitiba. A água tratada ali atende mais de 800 mil que vivem em 38 bairros de quatro cidades, a maioria em São José dos Pinhais, já que é na cidade que está instalada a Estação de Tratamento de Água, a maior unidade do complexo de obras, um reservatório e diversas estações elevatórias. Todo o complexo inclui 105 quilômetros de rede de distribuição, a estação de tratamento de São José dos Pinhais, sete reservatórios e 11estações elevatórias, que produzem e distribui mais de 40 milhões de litros de água tratada.
E não para por aí, há muito mais obras. Construímos o Centro de Detenção Provisória, ampliamos a Academia da PM, no Guatupê, o Laboratório Central do Estado, construímos ou ampliamos escolas. Nessas obras, investimos mais de R$ 24 milhões. Atualmente, estamos construindo duas novas escolas, no Jardim Ipê e na Vila Nova, e fazendo reparos em outros colégios.
Também usamos o dinheiro do Fundo de Desenvolvimento Urbano para financiar obras de infraestrutura na cidade, com contrapartida da prefeitura. No Afonso Pena, estamos financiando R$ 6 milhões no Ginásio de Esportes. Com outros R$ 9,7 milhões, financiamos a pavimentação de cerca de 20 quilômetros de ruas. Também financiamos mais de R$ 800mil para que sejam construídas quatro quadras esportivas cobertas nos colégios estaduais Guatupê, Arnaldo Jansen, Lindaura Lucas e Unidade Pólo da Vila Braga.
É preciso lembrar que São José dos Pinhais é forte, também, na agricultura familiar. Há algum tempo, entregamos 16 máquinas financiadas pelo programa Trator Solidário a 30 famílias de agricultores do município — alguns compraram a máquina juntos, o que é um dos motes do programa. Desde o início do programa, em outubro de 2007,entregamos 28 tratores em São José dos Pinhais. O Trator Solidário é um programa fantástico, em que o Governo do Paraná financia as máquinas em prazo de dez anos — sendo dois de carência — com juros de 1% a 5% ao ano. Além disso, garantimos o pagamento dos tratores em equivalência-produto. Nesse sistema, os agricultores calculam o débito inicial em sacas de milho e, caso ocorram diferenças no fim do contrato, o Governo as cobre.
E ainda temos que ouvir em nossas manhãs radiofônicas que este Governo não tem obras. O que mais querem? É preciso muita má vontade, muito azedume, muita ignorância córnea ou má-fé cínica para negar a este Governo o maior programa de obras públicas e de investimentos hoje no País, entre todos os Estados, e o maior da história entre todos os governos do Paraná.
3-Governador Roberto Requião cite três grandes desafios que a Administração do Estado tem numa visão metropolitana?
O grande desafio que estamos enfrentando, hoje, na Região Metropolitana, é a urbanização e regularização do Guarituba, em Piraquara. Trata-se do maior programa de urbanização do País, atendendo cerca de 60 mil pessoas. Vive mais gente no Guarituba que em 90% dos municípios do Paraná. 9 mil famílias vivem em áreas de risco, e por isso serão relocadas no próprio bairro. 803 dessas famílias serão retiradas da beira dos rios para novas casas, em área que será aterrada. Para evitar alagamento nas 37 quadras de lotes que serão abertos, serão necessários 100 mil metros cúbicos de terra – volume equivalente a 7 mil caminhões de médio porte. Vamos precisar de 20 caminhões com capacidade de 12 metros cúbicos, ou 60 caminhões de menor porte. Serão 66 dias de trab
alho, em oito horas diárias, com cada caminhão fazendo seis viagens por dia. Outros desafios, que também estamos enfrentando, e que detalhei acima, são a construção da trincheira das Avenidas das Torres e Rui Barbosa, que irá desatar um nó importante do trânsito da Grande Curitiba, e a duplicação da Avenida das Américas, um eixo viário fundamental para São José dos Pinhais e para Curitiba.
E essas obras seguem em frente, em ritmo forte, mesmo com crise. Pois crise se combate, e isso já está claro, hoje, com investimentos públicos, com o que se chama de ação anticíclica do Estado, para contrabalançar os freios que o setor privado coloca na economia nesse momento. Por isso, investimos e vamos continuar investindo, rejeitando a opção fácil dos cortes de investimentos. Cortar gastos é a saída clássica, pouco criativa, desiluminada, preguiçosa, ou, quando não, espertalhona. Vejo aí muitos Estados e prefeituras quebrados, que agora aproveitam a onda da crise para suspender obras que não iriam fazer nunca, para cortar despesas que não tinham condições de realizar mesmo sem crise, para negar aumentos salariais que não dariam mesmo. E proclamam que estão fazendo um choque de gestão. Ora.
4- A crise mundial bate à porta. Faça uma breve análise do que o Paraná representa hoje no cenário nacional em relação à geração de emprego, renda, exportação, etc.?
Dados divulgados ainda há poucos dias pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que o volume de vendas do comércio varejista do Paraná cresceu 4,8% em janeiro, em relação ao mesmo mês de 2008. É o trigésimo resultado positivo consecutivo do nosso Paraná nessa base de comparação. No acumulado dos 12meses entre fevereiro de 2008 e janeiro de 2009, as vendas do comércio varejista do Paraná avançaram 6,6%, o melhor resultado da Região Sul.
Apesar da crise, começamos 2009 com a geração de 1.592 novos empregos com carteira assinada em janeiro. O Paraná foi um dos poucos estados que tiveram saldo positivo em janeiro, segundo dados do Ministério do Trabalho. Alguns catastrofistas radiofônicos fizeram troça desse leve crescimento de 0,07%. É pena, e é exemplo do que virou a análise econômica, ainda ancorada nos já derrotados preceitos neoliberais — importam apenas os números. Se esquecem, esses comentaristas, de que são 1.592 famílias com comida na mesa, com roupa nova para mandar as crianças para a escola. É lógico que é um número pequeno, ante tantos bons resultados que tivemos nos meses anteriores — geramos 110.903 novos empregos formais em 2008.
Sabemos que a crise ainda terá efeitos mais severos por aqui. Não nos iludimos. Por isso, propusemos uma emenda constitucional vinculando incentivos fiscais a empresas à manutenção de empregos. Infelizmente, alguns deputados que não parecem ter entendido quão grave é a crise que enfrentamos se esqueceram de que deveriam estar no plenário, votando, e por um voto deixamos de passar uma medida fundamental, que daria ao Governo do Paraná um instrumento para coibir, para restringir as demissões. Pois, nesse momento, o mais importante é preservar os empregos, é garantir salários, para que a economia siga girando.
Para que se tenha uma ideia de como era importante essa medida, cito como exemplo o caso das montadoras instaladas em São José dos Pinhais. A Renault, no início deste ano, suspendeu o contrato de mil trabalhadores – em fevereiro, 500 deles foram reconvocados para o trabalho. Na Volkswagen/Audi, o Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba luta para assegurar a manutenção dos empregos. Essas mesmas empresas receberam empréstimos milionários, doação de terrenos e dilação do prazo para pagamento de ICMS no governo anterior. Agora, na primeira grande crise que enfrentam, querem cobrar a conta dos trabalhadores. E foi justamente a geração de empregos que esses empresários usaram, e usam, como argumento para conseguir incentivos. Ora, pois então por que não associar os incentivos à geração de emprego?
É bom que não nos esqueçamos — a crise não foi obra dos trabalhadores, ainda que agora se queira jogar sobre eles seus mais graves efeitos. É evidente que ela terá impacto em todos os números da economia brasileira, da economia paranaense. Mas é preciso que também fique claro que ela não será combatida com os remédios que a causaram — a liberalização da economia, com a mão invisível do mercado a controlar tudo, a tentativa de se retirar direitos dos trabalhadores. Foi tudo isso que causou a crise. Não é com isso, portanto, que vamos enfrentá-la. A crise se combate com manutenção de empregos, investimentos públicos, aumento de salários, e com medidas que só estão ao alcance do governo federal — estatização do crédito, corte real e radical nos juros e controle do câmbio. Oque está ao nosso alcance, faremos, já fazemos — caso do piso salarial regional, para que determinamos um aumento de 14,9%, com valores variando de R$ 605,27 e R$ 629,65. Isso está nas mãos dos deputados, da Assembleia — esperamos ver a lei aprovada o mais rápido possível.
(por Carlos Evangelista em 17/03/2009, exclusivo para o Jornal Metrópole de São José dos Pinhais